Perguntas(24)

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Com terror Haltr viu uma sombra autônoma se deslocar em sua direção, ela tinha um formato circular, mas parecia se deformar um pouco ao se mover. Haltr deu um salto tentando se desviar dela, mas num piscar de olhos ela tinha atravessado o espaço que os separava e então se uniu a sombra dele. Haltr sentiu uma estranha sensação quando aquilo ocorreu, como se sentisse seu peito ligeiramente gelado.

- Não tema, minha presença não adiciona nenhum peso que já não esteja carregando.

Era aquela mesma voz que havia falado com ele em seu sonho, se aquilo era mesmo um sonho. Ele se lembrava da voz, mas não exatamente das palavras, ela havia feito perguntas e falado algo sobre julgar. Haltr tentou correr mesmo com a perna ferida, em uma tentativa inútil de se afastar da sombra.

- Está fugindo da própria sombra, ou de si mesmo? Para quem tem sonhos de bravura você tem pouca coragem.

- Quem é você?!

Haltr já tinha tido sua cota de experiências com pessoas falando em sua cabeça, e não estava totalmente convencido de que aquele não era um truque de Cuinte.

- Eu não sou o homem que pensa, eu sou uma sombra. A sombra de Iratir.

- Iratir?! - Haltr parou por um momento, desistindo de fugir - Você... é Iratir?

- Tanto quanto sua sombra é você.

- O que isso quer dizer?

- Eu sou conhecido por dar respostas, mas não há algo mais premente para você perguntar? Sobre certa jovem, talvez? Ela está muito ferida, mas ainda está viva.

- Sieh?! Onde ela está? - Se dando conta de onde ele mesmo estava Haltr adicionou - Onde nós estamos?

- Em lugar nenhum.

Haltr estava começando a se cansar daquele jogo.

- Me responda onde ela está!

A voz respondeu com muita calma e leve divertimento.

- Atrás de você.

Haltr se virou e olhou para trás, por um momento não viu nada a não ser areia e quase começou a gritar para que aquela sombra parasse de brincar com ele, mas antes de fazer isso percebeu um montinho de areia se mover um pouco a uns trinta metros de distância. Haltr começou a mancar o mais rápido que podia, mas enquanto avançava algo inacreditável começou a ocorrer, era como se o sol estivesse se movendo e desaparecendo atrás do horizonte, deixando somente uma penumbra similar a do Cinzal. Haltr sentiu suas pernas começarem a vacilar com aquela visão.

Aquilo era surreal demais, ele havia passado a vida inteira em um mundo estático, onde o céu nunca se movia a não ser pelas nuvens, a terra poderia se abrir e cuspir mil bestas ensandecidas e aquilo ainda seria menos assustador do que o que estava vendo agora.

- Era assim que o mundo costumava ser... noite e dia, sempre em movimento...

Haltr despertou do assombro quando ouviu a voz. Se lembrou do porque estivera andando e recomeçou. Mas o céu continuou mudando, logo tudo escureceu e as estrelas começaram a brilhar uma a uma, a lua que antes era uma sombra pálida começou a resplandecer.

Haltr sentiu um vento frio e estremeceu por completo. Estava de volta a escuridão. Era exatamente como havia visto quando saiu com Tegthan e os demais procurar as ditas ruinas. Começou a se sentir aflito e ansioso, até que viu um montinho de areia se mexer de novo, lhe lembrando do que precisava fazer.

Entre a escuridão e a auroraOnde histórias criam vida. Descubra agora