Episódio 9

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"—Quando estiver indecisa sobre algo, pare, pense e olhe para o céu repleto de estrelas, lá estará sua resposta - falou meu biso, algumas horas antes de morrer."

16 de Fevereiro, 2018

Mal entrei na escola e Laryssa já veio com um turbilhão de perguntas em relação ao bilhete.
—Beck!!! - gritou Johnny, entrando na aula de Física - Que ideia foi essa de pichar meu quarto? Ainda estou com chantilly no cabelo! - esbravejou.
Zack se aproximou, juntamente com o resto da turma.
—Faltou água pra tomar banho, Walker? - perguntou debochado.
—Isso já foi longe de mais, não acha, Lyssa?!
—Foi só uma pegadinha, vingança por ter lido meu diário! - retruquei.
Ele me encarou debochado.
—Pelo menos, não fui eu que briguei com a pessoa que acho que amo! - exclamou, citando a parte mais pessoal do meu diário.
Todos começaram a cochichar. Oh, não!
Meus olhos marejam, uma solitária lágrima escorreu por minha bochecha e corri pra fora da sala.
—Lyssa!!! - gritaram Zack e Lary, juntos, vindo atrás de mim.

Só parei quando minhas pernas fraquejaram. O que eu estou fazendo da minha vida? Até semana passada eu e Johnny vivíamos aquela famosa Guerra Fria, de se odiar em silêncio.
Como as coisas mudaram...
Ouço meu celular tocar, dentro da mochila. Pego e atendo. Era número desconhecido.
—Alô? - falo receosa.
—Você é neta de Eva e Max Bennett?
—Sim...
—Então, receio que eu tenho que te dar essa notícia...

Johnny P. O. V.

Assim que Lyssa, Zack e Laryssa saíram correndo, percebi o quão idiota eu fui.
Abaixei o olhar, enquanto punha as mãos nos bolsos.
Notei um papelzinho rosa fluorescente no chão, peguei. Assimilei, primeiro, a perfeita e totalmente reconhecível caligrafia de Beck. Li o bilhete: "Você está certeza, eu amo Johnny Walker".
Por isso que Laryssa estava "atacando" Lyssa?
Lyssa Beck, realmente, me ama?
Essa pequena frase, essas duas perguntas, me fizeram me sentir mais idiota.

Lyssa P. O. V.

As lágrimas não caiam mais. Zack e Lary não me encontraram. Sentei num banco da pracinha, aqui é perto da casa dos Walker's.
Mais dois mortos. Que vida é essa?!
—Meow! - miou um gatinho preto ao meu pé.
Ele é totalmente negro e tem olhos verdes, sorri.
Acariciei sua cabeça. Ele pulou em meu colo e eu fiquei fazendo carinho nele.
O gato tinha coleira. Chat. Quanta criatividade, gato em francês.
Não tem endereço nem número. Peguei ele no colo e o levei comigo.

⭐⭐⭐

Passei o resto da manhã em casa, não tive coragem de voltar pra escola, não até o concurso.
São onze e meia, me arrumo e desço.
Deixe ração e água pro Chat.
Vou pra escola. O gatinho tinha, realmente, me distraído da dor. Eles morreram voltando pra Califórnia... O avião caiu no meio do oceano, sem nenhum vestígio de qualquer sobrevivente.
Suspiro, adentro na escola, vou até a única carteira vaga no círculo.
---Lyssa! Que bom que chegou, agora podemos começar - falou a diretora - 1° pergunta: qual é o maio órgão do corpo e por que?
Apertei o botão ao mesmo tempo que Johnny. A diretora foi ouvir a resposta dele.
—O intestino. - eu juro que eu quase engasguei com a minha saliva - Porque ele é o mais extenso dentre os outros órgãos. - falou convicto.
Solto uma risadinha.
---A pele é o maio órgão. Porque, além de sua capacidade de se  autoregenerar, ela tem uma incrível elasticidade, que aumenta à medida que crescemos. - respondi.
Foram acrescentados mais dez pontos no meu placar, totalizando 400 pontos (Pra Grifinória).
E assim se seguiu o resto do concurso.
Na volta, pedi carona ao Zack, que sempre fica à tarde pra me ver no concurso,
Ele deixou Lary em casa e depois eu.
—Quer entrar, Zack? - perguntei - Podemos assistir algum filme.
Ele olhou a hora no celular.
—Não dá, mas eu posso entrar rapidinho pra ver o gato, eu preciso ir pra casa.
Zack desligou o carro e entramos.
Ele pegou o gatinho, que veio nos dar boas vindas.
—Coisa fofa! - falou.
Rio.
—Cereal? - digo, já me servindo.
—Lyssa - ele se aproximou, ficamos frente à frente - Eu... Tenho que te contar uma coisa, muito importante.
—O que?
—Eu... - começou, ouvimos um barulho vindo do andar de cima - Eu tenho que ir, é melhor ver que barulho foi esse. Tchau, Minhoca.
Ele caminhou até a porta, olhou pra trás e me lançou um sorrisinho de canto.
Sorri de volta e ele se foi.
Peguei minha tigela e a colher, subi as escadas, entrei no meu quarto e acendi a luz.
Tava tudo no lugar. Meus olhos varreram o lugar.
Notei um porta-retrato no chão. Pus a tigela em cima de uma prateleira, perto da TV, e peguei a foto.
Era uma foto minha, com minha mãe e meu pai. Sorri ao lembrar desse dia. Coloquei-a em seu devido lugar.
Peguei minha tigela novamente, voltei a comer, sentado na cama.
Suspiro, olho pra sacada. O céu estava nublado, vai chover.
Meus olhos caíram sobre um papel azul néon, em cima da escrivaninha.
Levantei, peguei o papel com a outra mão
"Laryssa está certa, eu amo você, Lyssa Beck"
A letra cursiva elegante, os "as" inegavelmente redondos, não deixavam aquela caligrafia se tornarem irreconhecíveis. Johnny Walker.
Naquele momento, um raio cortou o céu, a tigela, assim como o céu, também se partiu, no chão frio do meu quarto.

Humanas & Exatas: Uma história além da Física (EM REVISÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora