Esperar! - Capítulo 40

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"O que eu não daria pra ter você aqui comigo agora
Estaria perdido em seu toque
Se eu conheço meu coração
Não há nada que eu queira tanto"
(Warren Barfield)

Yasmim

Encontrar-me com Caleb fez meu coração descompassar; paralisei ao mirá-lo na galeria, buscando entender o motivo para ele estar aqui, até compreender que o motivo era eu. Eu não sei porque ele veio se desculpar comigo tão inesperadamente assim como não tenho ideia do que ele queira dizer, porém por realmente estar ocupada naquele momento e me era necessário repassar uma documentação para entregar ainda hoje na prefeitura, papéis esses que de antemão pedi que minha secretária redigisse, no entanto não tive muito tempo para lê-los, a não ser pela manhã, assim que cheguei duma reunião com alguns empresários da região que irão destinar verba ao projeto; eu aceitei ter um diálogo com ele mesmo que fosse num outro momento por me faltarem palavras, mas não foi por mentira, afinal não era a minha intenção. Todavia, será bom dialogarmos e pôr a pratos limpos o que nos tem ocorrido. Eu não quero levar mágoas em relação a ele pelo resto da vida. O que ficou no passado não insisto mais em torná-lo presente, antes quero que o pretérito permaneça lá. O que preciso tirar do meu coração sairá com o tempo mesmo se esse tempo durar uma eternidade, sobretudo que a vontade de Deus prevaleça e, se isso é de permissão divina para que tudo entre nós se encerre, que assim seja, ademais quero estar em paz concernente a minha vida sentimental.

— Yasmim! Eu não acredito que você disse que conversaria com ele em outra hora! — Dai põe as mãos na cintura, indignada.

— Não foi porque eu quis — digo, assinando os últimos papéis do meu novo empreendimento para levar à prefeitura. Não quero que haja irregularidades depois e eu seja penada por isso. E, enquanto o faço, Dai se assenta, olhando para o teto do meu escritório. Eu a miro abruptamente e rio, balançando a cabeça negativamente.

— Já escolheu o vestido para o seu noivado? — pergunto.

— Não. Irei ver amanhã. — Cruza os braços. — Sim. Conte-me. — Miro-a. — Essa sua mudança radical tem a ver com você ter se convertido, né? — Sorrio com a sua pergunta.

— É, sim.

— Uau! — Levanta. — Gostei de ver, mas agora preciso voltar as minhas atividades.

— Tudo bem — respondo, ainda com os olhos vidrados nos papéis e, assim que ela se retira, eu tiro meu olhar dos mesmos por um instante e suspiro.

— Ainda preciso pintar — digo a mim mesma, mirando alguns esboços que eu havia feito. Esses continham uma nova perspectiva e não se relacionava ao primeiro tema de estréia. Em um deles, por exemplo, eu quis contemplar a infância, a beleza da inocência e a opressão que os rodeia retratando na tela, crianças se divertindo próximo a um rio e uma das cobrindo o rosto com a mão não vendo os adultos vindo em direção a eles. Simbolizando assim a maturidade precoce que caminham até elas, porém algumas estão inocentes para isso e outras tentam não percebê-la para que não percam a pureza. E aí está o segredo: A inocência te dá riscos – o mal, concreto –, mas a mesma te protege do mal que a cerca – O mal, abstrato. E os dois males contaminam a alma, deixando-a vulnerável a tudo e, quando as fases passam, o que tinha de mais belo já fora perdido.

Jogo a cabeça para trás, recostando-me na poltrona e deixo que ela gire um pouco, ainda pensativa. Há certas coisas que precisamos deixar que se vá, porém, no meu caso, insisto em deixar que continuem, mas creio que isso irá mudar.

Saindo de meu devaneio, levanto-me do assento, deixo o computador em modo de suspensão, pego a minha bolsa com os papéis e me direciono à porta. No momento em que estou indo em direção ao elevador, deparo-me com Johnny saindo dele, fazendo-me sorrir involuntariamente.

COMO O OUTONO, COMO A PRIMAVERAOnde histórias criam vida. Descubra agora