Deitado em minha cama, os olhos voltados para a janela, contemplando o céu da noite, recordo das palavras de Miguel: "Você, Adrian, melhor do que ninguém, deveria saber que não existe fórmula mágica para isso. Anda, engole esse medo. Vai atrás dela. Declare seu amor. Busque a sua felicidade".
Ele está certo. Aliás, não me lembro de nenhuma vez em que Miguel não estivesse cem por cento certo de alguma coisa. Mas o que realmente importa para mim é encontrar as palavras certas para dizer a Hannah o quanto eu a amo, e não permitir que o medo de falhar tome a dianteira e ponha tudo a perder.
Mas quando? Onde? Como?
"Se eu soubesse ao menos onde ela mora..."
Há uma forma de descobrir, diz a vozinha da consciência. E de repente sei perfeitamente como obter essa informação. Será arriscado, claro. Serei expulso imediatamente, caso algo dê errado. Mas já que estou decido a lutar pelo meu amor, não posso hesitar. Irei até as últimas consequências!
Levanto-me da cama e, andando nas pontas dos pés, vou até o roupeiro. Pego a mochila e a abro com cautela, para não acordar meus amigos. Tiro dela uma das lanternas que trouxe de casa e saio. Por que, diabos, você trouxe essas lanternas para a escola? Quem teria essa ideia? – pergunta a voz irritante. Na verdade, não faço ideia do porquê. E nem tenho tempo para me preocupar com essas questões sem respostas. Abro a janela vagarosamente – com gestos que parecem os de uma dança lenta e muda – e olho para baixo. Não é tão alto. Dá para pular. Galgo o parapeito e pouso na grama úmida. Ligo a lanterna e, às apalpadelas, atravesso o quadrângulo, passando por todas as portas e janelas fechadas, indo em direção ao prédio principal.
A noite está fria, e já passa das nove. Por um segundo, me arrependo de não ter trazido um casaco, mas não quero ficar com as mãos ocupadas e acho que posso aguentar o tranco. Há seguranças do lado de fora do prédio, mas para a minha sorte, eles parecem desligados do mundo, como se estivessem sem dormir por dias. Em completo silêncio, com alguma dificuldade para me localizar, vou andando, me esgueirando de sombra em sombra a fim de não ser visto por ninguém. Após mais alguns metros, chego exatamente aonde queria: a sala da Diretoria.
Com o máximo de cuidado possível, forço a janela, que na verdade não é muito resistente pelo fato de o colégio ser bem protegido pelos muros que a rodeiam e por não existirem ladrões aqui. Apoio as mãos no parapeito e subo, não sem antes olhar ao redor. Entro pela janela e, segurando a lanterna com a mão esquerda, sigo rastejando junto à parede. Sem querer, esbarro em algo que está sobre a mesa. Está tudo escuro ao meu redor, mesmo com a lanterna acesa, e por isso não posso ver o que caiu, mas pelo "prec" deve ser alguma coisa de vidro.
De repente, ouço vozes vindo em minha direção e, amaldiçoando minha falta de sorte, me escondo atrás de um vaso com um coqueiro de plástico desbotado e empoeirado no fundo da sala.
A porta se abre e duas figuras negras entram. Com certeza são os seguranças que vi lá fora. Dois homens, que aparentam estar mais tensos do que eu, munidos de lanternas e armas, começam a andar vagarosamente pela sala, em passos que nem mesmo eu consigo escutar, embora esteja muito próximo deles. Observo-os passarem bem perto do vaso e prendo a respiração, tentando não soltar nenhum gemido constrangedor. Que bela ideia eu tive! Aqui, encolhido num canto de parede, sem poder me mexer, sem ter para onde ir, aguardo o momento em que eles me acharão.
Um dos seguranças olha para o chão, a luz da lanterna ressaltando cacos de um objeto de vidro quebrado, e o outro nota que a janela está aberta.
— Algum engraçadinho está querendo arrumar problema... – sussurra um dos guardas. O mais alto.
O guarda se vira na direção do vaso, apontando a lanterna para o coqueiro. Agora sim, estou perdido. Agora sim sou o louco que sempre pensei ser. Quero descobrir o endereço da garota que amo. Preciso, a qualquer custo, descobrir. O Formulário de Matrícula só pode estar aqui. Nele deve conter todos os dados que preciso para chegar até ela. Mas acabei estragando tudo. Acabei me ferrando...
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Para Sempre - A Escolha
Teen FictionEm seu primeiro ano no internato Crossfield, Adrian M. Lindenberg, um jovem inteligente e carismático, vive dias felizes ao lado de seus melhores amigos e de sua namorada, a bela e carismática Hannah Anderson. Mas tudo muda quando ele reencontra Lar...