Capítulo 8 - O reencontro

340 16 1
                                    


Quando enfim o relógio marca sete horas, o sinal do início das aulas soa e todos os 457 alunos – 458, comigo – se dirigem simultaneamente para suas respectivas salas. Miguel diz que estamos no 1º D e que nossa sala é a de Nº 18, no fundo do corredor à direita. E lá vamos nós!

A sala de aula é ampla, bem iluminada, toda pintada de branco, com laje alta e vários vitrôs. Observo cada detalhe enquanto entro, desde o piso em madeira-de-lei ao perfeito acabamento em gesso no alto das paredes; as bancas bem projetadas e acopladas a carteiras confortáveis, voltadas para a parede lateral, na qual está fixada uma grande lousa. As pessoas à minha frente param junto à porta para pendurar seus casacos em uma longa fileira de ganchos. Imito-as. Em seguida, me sento.

Continuo olhando em volta, buscando novos detalhes. Umas duas mesas à frente há uma garota ruiva, cuja pele muito clara e o batom vermelho me fascinam. Seu nome deve ser Beth, já que a garota de cabelos pretos curtos que está ao lado não pára de repetir "Beth, Beth, Beth...". Nos lugares da frente estão, provavelmente, os nerds da turma. Os mesmos estão quietos – exceto por um garoto de cabelo castanho que não pára de falar sozinho –, com os olhos vidrados em seus livros. No fundo da sala, sentam-se os "tranquilões", aqueles que não fazem os deveres de casa e nunca levantam a mão, mesmo se souberem a resposta. Atrás de mim está Miguel, jogando Mario Bros. Estranho à beça o fato de ele não ter escolhido sentar na frente. Mas depois, ignoro. Afinal, sempre há coisas que mudam.

À esquerda, está Pablo, que, como sempre, tem uma folha de caderno e um lápis na mão. Está compondo uma canção. O que eu admiro mais do que sua humildade e sua conduta simpática, é a enorme capacidade de compor e arranjar canções. Não à toa o chamam de 'máquina de fazer músicas'.

Algumas mesas à direita, vejo Alex, que, ao contrário dos demais companheiros, é desinteressado e falta demais à escola. Na primeira vez em que nos falamos, Alex disse que tinha dificuldade para se concentrar nos estudos. Mas, observando sua conduta em sala, descobri que Alex é um daqueles alunos que preferem girar um livro no dedo em vez de lê-lo. Conversa quase o tempo todo e já foi expulso da classe uma vez, por acertar um professor com uma borracha. De fato, ele por si só já é um problema. Nos tornamos grandes amigos, mas de jeito nenhum eu posso me sentar ao lado dele durante as aulas.

E, nas cadeiras da frente, percebo Henrique, ao lado de Jonas, um expert em aritmética e informática. Os dois se dão muito bem. Adoram se sentar juntos e fazer os deveres de casa juntos, mas estranhamente ninguém os vê juntos durante os intervalos. Acontece que Henrique detesta ser comparado aos seus amigos, os CDFs, que, apesar de serem pessoas boas, não são vistos com bons olhos pela maioria dos alunos. Parece que em Crossfield ter um alto nível de conhecimento é a pior coisa do mundo. Você pode ser inteligente, mas se usar óculos grandes, aparelhos, calças acima do umbigo e tiver o cabelo lambido, você vai parar na Lista dos Excluídos.

E isso, para Henrique, é pior do que ser reprovado em pleno Ensino Médio.

Cinco minutos depois do toque do sinal, um homem barbado, usando um terno preto e óculos de aros redondos, entra na sala, segurando uma mochila bege. O sujeito é alto e esguio, de ombros retos e quadris estreitos. Usa uma camisa branca engomada e gravata-borboleta preta. O cabelo é bem curto e os olhos são negros como uma noite sem lua.

— Bom dia à todos – começa. Tem um sotaque diferente, aparentemente estrangeiro. Desconfio que ele deva ser descendente de italiano. – Meu nome é Ricardo Álvaro, mas quem quiser sinta-se à vontade para me chamar de Rick. Sou o professor de Física e Álgebra dos segundos anos e ensino Filosofia nos primeiros anos. Bem... há quem diga que jamais irá encontrar uma prática mais entediante e cansativa do que a Filosofia. Mas podem ter certeza de que, comigo, as aulas serão... como vocês dizem mesmo? Ah... maneiras!

Para Sempre - A EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora