Capítulo 30 - Realidade cruel

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Larissa

Só me dou conta do que está acontecendo quando o corpo dele está colado ao meu, a boca dele a dois centímetros da minha.

Eu já desconfiava que o maldito destino estivesse tentando nos aproximar, mesmo fazendo até o impossível para me afastar dele. E nada parece me favorecer em minhas frustrantes tentativas de apagá-lo do coração. Nada, nem ninguém.

Coincidências podem existir, mas com o único objetivo de nos azucrinar. Era no que eu estava pensando quando o professor de Educação Artística pediu – isto é, ordenou – que Adrian e eu fôssemos à biblioteca buscar os malditos livros. Quase sugeri que ele arrumasse outra pessoa para fazer essa desagradável tarefa. Bem, não seria tão desagradável se eu tivesse que ir com outra pessoa. Por que não com uma das minhas amigas, ou com meu namorado? Por que justamente com Adrian? O que eles esperam que aconteça enquanto isso?

Agora, não tenho certeza de absolutamente nada. Nem sei direito como minha mente funciona, nem se está no lugar certo. Entre todos os pensamentos desconcertantes, está aquela cena que me pegou totalmente desprevenida. O beijo que Adrian me roubou no dia em que nos encontramos no dormitório. Naquele instante, eu me senti arrasada. A raiva me subiu à cabeça, e isso fez com que eu o agredisse. Mas pouco tempo depois a raiva simplesmente sumiu e uma estranha mistura de alegria e prazer tomou conta de mim. Pela primeira vez e, infelizmente, por um mero instante, me senti amada e desejada pelo garoto que eu realmente amo. Foi o momento em que todas as minhas defesas desmoronaram. O único momento em que considerei a possibilidade de desistir do noivado.

Beijei ele com todo o amor que flui de dentro de mim, explorando os lábios dele exatamente como ele fez comigo. Mas novamente a culpa caiu sobre a minha consciência como uma bigorna de meia tonelada. O que estou fazendo? Estou traindo Victor, o garoto que me ama e com quem estou comprometida. Enquanto ele se mantém fiel a mim – como eu imagino que será durante toda a vida – eu o traio descaradamente, me deixando levar pelas emoções. "Não, isso não pode acontecer. Tenho que me afastar dele. Tenho que ficar com quem me ama de verdade, e parar de correr atrás de quem não se importa comigo, e que certamente me vê apenas como objeto de distração."

Essa tem que ser a explicação. Me tornei uma garota atraente e até mesmo Adrian está caindo na minha teia, embora essa não seja a minha intenção. "Claro que ele não está apaixonado por mim. É obvio que o que ele sente por mim se traduz em 'atração física', 'desejo carnal'. Se existisse a menor possibilidade de alguma coisa rolar entre nós, Adrian com certeza nunca me levaria a sério. Não aconteceria o mesmo que aconteceu entre ele e Hannah, que sem sombra de dúvida é o grande amor da vida dele. E, sim, sofreríamos como nunca. Em algum momento nos desprezaríamos e nos afastaríamos um do outro, não havendo a menor possibilidade de reconciliação."

Enquanto tudo isso gira em torno da minha cabeça, sigo apressadamente pelo corredor, com Adrian logo atrás de mim. Tento manter a maior distância possível, mas logo percebo que ele também anda depressa, tentando me acompanhar. De repente, sinto a mão dele agarrar meu braço.

— Me solte!

— Por que tanta pressa?

— Acho que isso está bastante óbvio.

— Eu te ponho medo?

Não, seu idiota! Não percebe que o que eu mais quero no mundo é que você me toque, me abrace, me ame? – diz uma voz em meu interior.

— E o que te faz pensar que eu tenho medo de você?

— Não faço a menor ideia.

Adrian avança um passo, a mão esquerda dele indo para o meu outro braço.

Para Sempre - A EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora