Sábado, 20:42 P.M.
Miguel
— Adrian! Então é aí que você está?
Encontro-o sentado no banco, à sombra do Ipê Vermelho.
Ele se afasta um pouco, dando espaço para que eu possa me sentar. Érica fica logo atrás, não querendo intervir na conversa.
— Estávamos te procurando. Sua mãe está preocupada.
— Mesmo? Pois aqui estou eu. Não fui embora. Não ainda.
— Pelo visto nada do que você disse antes de virmos para cá era sério. Você não está conseguindo encarar a realidade.
— Eu disse que tentaria. E tentei. Mas não posso evitar. É mais forte do que eu.
— Sei que é. Adrian, você deveria saber que é inútil lutar contra um sentimento, quando quase sempre somos vencidos por ele. Quem dera pudéssemos apagar o amor com uma borracha. Quem dera pudéssemos calar o coração. Mas infelizmente não podemos domá-lo. Mesmo seguindo as regras do jogo, muitas vezes nos arriscamos a perder. Infelizmente essa é a sua realidade. Acredite, amigo, eu sinto muito.
— Não precisa dizer que sente muito. Mas adoraria que você dissesse o que eu devo fazer a partir de agora. Mas isso você não pode fazer, certo?
— Eu lamento, mas não. Não posso dizer nada. Isso está única e exclusivamente em suas mãos. Só você pode decidir o que fazer.
— Era bem isso que eu temia que você dissesse — diz Adrian, comprimindo os lábios.
Adrian olha para Érica, esperando que ela diga algo. Mas, em vez disso, ela se inclina para ele, acaricia seu rosto molhado e sorri. Em seguida, o abraça, como se dissesse "você sabe que sempre poderá comigo para qualquer hora, momento ou lugar".
E então o silêncio reina por alguns segundos. Até que o barulho de um veículo chegando se faz ouvir. É um ONIX LTZ PRETO.
"Não pode ser."
— Isso são horas de chegar? — diz Érica. — Já são quase nove horas e a festa está quase acabando. Quem será que está vindo?
O carro pára do outro lado da rua. Coço os olhos para ter certeza de que não estou vendo uma miragem. A porta da frente se abre e um homem de meia-idade, esguio, vestindo um terno bege, desce. Está acompanhado de uma mulher de mais ou menos quarenta anos, cabelos loiros e curtos, corpo esguio, usando um vestido vermelho e um penteado invejável. Por último, desce um rapaz alto, esguio, elegantemente vestido em um terno preto. O homem de terno bege liga o alarme do veículo e os três atravessam a rua em direção ao prédio.
— Aqueles são os pais de Victor Taylor, o noivo da Larissa — digo, sentindo aos poucos meu sangue borbulhar, a raiva ardendo nas veias.
Isso não está acontecendo!
Rapidamente me levanto e corro ao encontro de Roberta.
Encontro-a no mesmo lugar em que a vi quando cheguei. Sentada numa das mesas do lado esquerdo, está com uma taça na mão. Pelos seus gestos, bebeu mais do que devia. Rezo para que ela esteja sóbria o bastante para compreender o que vou dizer.
— Roberta! Ainda bem que eu te encontrei! Você não vai acreditar. O Víctor está aqui! Ele veio para o noivado.
A notícia quase a faz largar a taça no chão.
— O que você disse?
— O que você ouviu! Victor e os pais dele acabaram de chegar! Sabe o que isso significa? Que aquele safado nos passou a perna. Ele nos enganou. Prometeu que deixaria o caminho livre para o Adrian e que desistiria da Larissa.
— Que cara de pau!
— Alguma coisa me dizia que não deveríamos confiar nele. Devia ter imaginado desde o começo que ele não faria nada do que disse. Sabe o que nós somos? Dois idiotas! É isso que nós somos! Por acreditarmos que um playboyzinho como Victor Taylor abriria mão de alguém tão facilmente.
— Eu não acredito que ele olhou nos meus olhos e mentiu assim, na cara dura. Achei que ele estivesse sendo sincero, que ele fosse cumprir o nosso acordo. Ele disse isso. Disse que abriria mão da Larissa. Disse que não viria para a festa. Onde ela está? Quero olhar na cara daquele desgraçado. Quero ver o que ele vai dizer quando eu aparecer na frente dele.
Roberta se levanta. Num impulso, agarro o abraço dela.
— Não, Roberta. Você não entende? Acabou. Nós falhamos. Victor nos enganou e agora ele está aqui. Entende que não podemos fazer mais nada? O momento mais esperado por todos se aproxima cada vez mais. Mais alguns minutos e tudo estará acabado. Não podemos mudar um destino que já foi traçado. É assim que tudo termina.
— Você está errado, Miguel. Não é assim que as coisas precisam terminar. É verdade, o tempo está se esgotando. Mas enquanto houver tempo, haverá esperança. E até que o tempo termine, eu não vou parar. E você está comigo — Ela agarra minha mão, apertando-a com força. — Faremos o que for preciso para impedir que esse noivado aconteça. Nem que para isso a gente tenha que armar um escândalo.
— Não, Roberta. Pelo o amor de Deus. Tudo menos isso. Não suporto escândalos. — Solto a mão dela. — Quer saber de uma coisa? Eu desisto. Não quero mais fazer parte disso. Vamos deixar a Larissa fazer o que ela bem entender.
— Eu até poderia desistir... se estivesse fazendo isso por ela. Mas não é pela Larissa que estou lutando. É pelo Adrian. É pelo grande amor que sinto por ele. — Olho para ela, franzindo a testa. Não que eu jamais imaginasse que Roberta pudesse sentir alguma coisa por meu melhor amigo, mas nunca pensei que ela fosse o tipo de pessoa que fala dos seus sentimentos de forma aberta e sem receio de críticas. Por essa e outras razões eu a admiro tanto. — Eu o amo, Miguel. O amo com toda a minha alma. Não quero que ele sofra.
Um segundo depois, ouvimos passos se aproximando. Cabeças se viram para a entrada. Os membros da família Taylor acabam de chegar e agora estão atravessando o salão em direção ao centro, onde a aniversariante e seus pais os aguardam.
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Para Sempre - A Escolha
Teen FictionEm seu primeiro ano no internato Crossfield, Adrian M. Lindenberg, um jovem inteligente e carismático, vive dias felizes ao lado de seus melhores amigos e de sua namorada, a bela e carismática Hannah Anderson. Mas tudo muda quando ele reencontra Lar...