Capítulo 3 - O milagre

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Fico abismado. Num impulso, coloco a mão na boca enquanto algumas lágrimas rolam pelo rosto. Confesso que já imaginava, mas me nego a aceitar que mais um membro da família esteja condenado à morte.

***

Testemunhei um desmaio semana passada. Ela estava na cozinha quando, de repente, recuou com passos vacilantes e, em seguida, apagou. Seu rosto ficou pálido, quase sem cor. Tentei reanimá-la, mas ela não acordou. Desesperado, gritei por ajuda. Érica tinha saído cedo para procurar trabalho e eu estava sozinho em casa sem ninguém por perto. Corri para fora e recomecei a gritar. Um homem alto e barbudo, que estava de passagem, ouviu os gritos e correu em meu socorro. Disse a ele que minha avó estava caída na cozinha e que achava que ela estava morta. O homem foi correndo até ela. Verificou o pulso. Para o meu alívio, ela ainda estava viva, mas precisava de atendimento médico o quanto antes.

Chamamos uma ambulância, que veio dez minutos depois.

— Onde está a sua mãe? – perguntou um dos paramédicos.

— Ela saiu.

— É melhor informá-la – disse o homem que ajudara minha avó. Ele pôs a mão no bolso e pegou o celular. – Aqui. Ligue para ela.

Pouco tempo depois, estávamos no hospital, esperando o resultado dos exames. Mas acabei adormecendo na sala de espera e, quando acordei, estava de novo em casa, no meu quarto, na minha cama, o que me levou a pensar que tudo não passara de um pesadelo.

Levantei-me achando que encontraria a vovó na cozinha, sorrindo e assobiando sua música favorita enquanto terminava de preparar o café da manhã. Mas quando cheguei lá, percebi que o "pesadelo" que eu tanto temia havia se tornado realidade.

Érica falava ao telefone em voz baixa como se já esperasse a ligação e depois de vários sins, disse:

— Está bem, Jacques. Eu irei agora mesmo.

Desligou. Em seguida se virou e, quando me viu parado atrás do balcão, deixou o telefone cair no chão.

— O que foi? Que cara é essa?

— Bom dia, filho. Não foi nada. É que você me assustou.

— Com quem estava falando?

— Hã...

— Com o médico que examinou a vovó?

— Eu...

— Quais são os resultados? O que ela tem? É grave?

— Eu não sei.

— Como assim não sabe? Estava falando com o médico, não estava? O que ele disse?

— Já disse que não sei. Fique calmo. A sua avó está bem.

Se ela estivesse bem, agora ela estaria aqui conosco, era o que eu queria dizer. Sabia que ela estava mentindo. Havia tensão em sua voz. Isso significava que a vovó não estava nada bem. Vi como ela ficou pálida quando perdeu os sentidos. Ela continuava no hospital. E eu ali, sem notícias dela.

— O que quer para o café da manhã?

— Nada. Não estou com fome.

— Como quiser. A propósito, tenho que sair.

— Onde a senhora vai?

— Tenho que resolver um assunto que deixei pendente no centro da cidade.

— Que assunto?

— Prometo que logo você vai saber.

E não disse mais nada. Pegou a bolsa e saiu.

***

Para Sempre - A EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora