Capítulo 11 - Mau presságio

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Eu não saberia explicar o que me ocorreu na noite em que Miguel teve aquele sonho. Hoje, quando lembro que nossa amizade quase chegou ao fim por um deslize meu, sinto um grande constrangimento me invadir.

Mas foi uma coisa inevitável. Deixei a raiva me mover, e quando dei por mim, estava com o punho fechado, pronto para bater em meu melhor amigo. E tudo por causa de meras hipóteses. Bem, eu achava que eram apenas hipóteses. Bobagens. Mas o que para mim parecia bobagem, para Miguel significava que o meu destino iria mudar. Coisas ruins iriam acontecer e ninguém poderia interferir.

Fiquei assustado. Mas não foi isso que me fez perder a cabeça. Foi o que Miguel disse depois. Todo aquele papo de que minha vida estava prestes a mudar envolvia o fim do meu relacionamento com Hannah, e isso eu jamais poderia aceitar. Sempre confiei cegamente nele, mas, naquele momento, eu via Miguel como um estranho. Não parecia ele falando. E foi quando o inesperado aconteceu. Ameacei bater nele...

A noite cai e me sinto completamente exausto. E como se não bastasse, estou com uma baita dor de cabeça. Me jogo na cama com a esperança de dormir um pouco para aliviar a dor. Não dá certo! Só consigo rolar de um lado para o outro, provocando-me vertigem e enjoo. Cada vez mais tenso, trinco os dentes e tento ficar quieto, pensar em outra coisa, em qualquer coisa que possa colocar a dor em segundo plano. Mas não adianta!

De repente, começo a ouvir gemidos baixos, seguidos de suspiros abafados. Penso por um segundo que é minha imaginação me pregando uma peça. Mas os gemidos aumentam, e é quando vejo Miguel, rolando de um lado para o outro. Provavelmente está tendo um pesadelo.

— Nãããão!!!

O grito ecoa pelo quarto fazendo todos acordarem de sobressalto.

— O que aconteceu? – pergunta Alex. – É assalto?

— Parece que o Miguel teve um pesadelo.

— Pô! Quase tive um infarto!

— Eu sinto muito, gente. Tive um sonho estranhíssimo. Diria até que foi o mais estranho que eu já tive. Eu estava aqui, no internato. Mas estava tudo escuro e...

— Aí apareceu a Annabelle?

— Cala a boca, Zé mané! – exclama Pablo. – Deixe o cara contar o sonho. Você dizia que...

— Bem... Eu estava vagando pelo salão principal. Estava tudo coberto do mais imenso vazio. No meio de toda aquela escuridão, eu só conseguia ver um vulto e dois olhos. Dois olhos brilhantes, como duas bolas de fogo. Eles pareciam flutuar na escuridão. Achava que eram as coisas mais lindas que eu já tinha visto na vida. Tentei me aproximar deles, a fim de descobrir a quem aqueles olhos pertenciam, porém quanto mais eu avançava, mais eles se afastavam. Até que, num determinado ponto, onde havia uma réstia de luz que penetrava por um orifício no teto, eu pude ver a dona dos "olhos de fogo".

— Quem era? – pergunto, curioso.

— Não saberia dizer quem era, mas algo nela me fez ter arrepios. Ela me olhava com rancor, como se eu lhe tivesse feito algum mal. Tentei me aproximar, mas eu sentia um medo dentro de mim que me impedia. Olhei atentamente para ela, tentando reconhecê-la, mas ela me deu as costas. Eu tive a impressão de que a conhecia de algum lugar. De algum passado não muito distante. Não sei. Me pareceu familiar.

— E o que aconteceu depois?

— Ela desapareceu, de repente, em meio à escuridão. Comecei a procurá-la e foi aí que vi você e a Hannah, juntos.

— E a garota?

— Eu a vi de novo. Ela estava lá, observando vocês de longe. Ela olhava para você com a mesma frieza com que olhava pra mim. De repente, ela andou em sua direção, e como se a presença da Hannah não fizesse a menor diferença, ela simplesmente te arrancou de lá e...

Para Sempre - A EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora