Capítulo 37 - A grande noite - parte 1

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Sábado, 18:56 P.M.

Miguel

Só depois que estaciono a moto em frente à casa de Adrian é que eu reflito sobre a possibilidade de não contar com a presença do meu melhor amigo na festa. É a única coisa que pode fazer com que meu melhor plano vá por água abaixo. "Tanto esforço para nada", me imagino dizendo depois que eu tocar a campainha e Adrian me atender dizendo que não irá ao festejo.

Toco a campainha, esperando vê-lo de pijama e havaianas. A porta se abre de imediato, como se Adrian estivesse do outro lado só esperando que alguém tocasse a campainha. Quando o vejo, fico boquiaberto e dou um passo para trás. Adrian está usando uma camisa social de seda azul sob um belo terno bege e ostentando uma gravata verde-limão. Quando me vê, sorri.

— Uau! Para quem disse que estava na pior...

— O que você acha?

— O que eu acho? Está simplesmente demais, brother! Vai arrasar corações!

— Não acho que seja para tanto. Mas obrigado, mesmo assim.

— Nunca te vi bem assim. O que foi? Anda fazendo terapia?

— Não, mas minha mãe esteve falando comigo sobre isso uns dias atrás. "Situações drásticas pedem medidas drásticas", foi o que ela disse. Aí respondi que não era necessário, e prometi que as coisas iriam mudar daqui por diante.

— Mas você já tinha prometido isso antes.

— Eu sei, mas desta vez é sério. Me sinto mais confiante. Embora esta seja a segunda vez que a vida me dá uma rasteira, eu decidi que não vou mais ficar parado esperando que as coisas se resolvam por si mesmas.

— Mas, claro, você precisa de tempo. Eu te conheço.

— Exatamente. Você me conhece. Posso estar aprendendo a lidar com a dor, mas não sou nenhuma máquina. Tenho sentimentos. E quando os sentimentos são magoados, é preciso tempo até que todas as feridas sejam cicatrizadas.

— Me lembro que fui eu quem ligou te convidando para a festa da Larissa, mas não imaginei que quisesse ir. Quero dizer, você está aqui, pronto para ir, mas... Realmente quer estar presente na hora em que forem trocar as alianças? Realmente se conformou em perder a Larissa?

— Eu não a perdi. Afinal, eu nunca a tive.

— Mas você está mesmo disposto a abrir mão dela? Você disse que ela te ama. Por que não conta para ela que você também a ama? Você nunca sabe o que pode acontecer.

— Eu sei, sim. Já fiz o teste. Comprovei que ela ainda gosta de mim, e que corresponde ao meu amor. Mas ela não está disposta a largar tudo para ficar comigo. Ela prefere o Victor. Não sei porque, mas se é com o filho da mãe do Victor Taylor que ela quer ficar o resto da vida, azar o dela. Não vou mais me meter.

— Tem certeza, Adrian?

— Tenho. E quanto à sua primeira pergunta, até agora eu não sei dizer como foi que me convenceu a ir nessa festa.

— Eu te digo como: eu disse que teria uma surpresa.

— Ah, uma surpresa. Claro, me lembro. Uma roupa cara, um penteado que levou horas para ficar pronto... Tudo para matar a minha curiosidade. Mas quer saber de uma coisa? Depois do que eu vivi, nada mais nesse mundo é capaz de me surpreender.

— Essa é sua resposta. A minha é a seguinte: a noite promete, meu amigo. Confie em mim. Você não vai se arrepender.

— Você disse a mesma coisa por telefone. Por acaso está sabendo de alguma coisa que eu não sei?

— Quem, eu? Não. Por quê?

— Não sei. É que você fala como se soubesse que alguma coisa fosse acontecer. Vem cá, você não está me escondendo nada, está?

— Garanto que não.

— Vou fingir que acredito.

— É sério. Eu...

Adrian começa a rir. Antes que eu possa dizer algo mais, ouço passos atrás de mim.

— Filho, você deixou a televisão ligada. E mal tocou na comida.

— Foi mal, mãe. Não estava com muita fome.

Érica se aproxima, girando as chaves do carro no dedo. Também está muito elegante, num vestido verde-água que realça o tom da sua pele morena. Tem o cabelo apanhado num belo coque, as pálpebras tingidas de violeta, os lábios pintados de carmim e os pés metidos em sandálias de tiras.

— Estamos um pouco atrasados.

— Não acho que o suficiente para nos barrarem na porta — murmura Adrian.

— Se fizerem isso, eu mudo de colégio — complemento com uma risada.

Érica, sem dar atenção ao que estamos dizendo, se dirige à garagem, abre a porta e liga o carro. Enquanto entramos, penso em tudo que Adrian me disse, imaginando se foram palavras sinceras ou se foi tudo da boca para fora.

De qualquer maneira, estou contente. Sem querer deixo escapar um sorriso indiscreto, e Adrian olha para mim como se pensasse que não ando bem da cabeça. Mal sabe ele que o motivo para eu estar sorrindo é a surpresa que Roberta e eu preparamos para esta noite. Mal posso esperar para a hora do noivado chegar, para testemunhar o espanto brotando no rosto dos convidados diante dos meus olhos.

Para Sempre - A EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora