Capítulo 25 - Entre o amor e a razão

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Miguel

Estou em casa fazendo minhas tarefas quando o celular toca. "Hora imprópria," penso a princípio. Resolvo atender, pensando em desliga-lo em seguida. Olho o número ao lado do nome ÉRICA e fico surpreso. Atendo a ligação imaginando o que ela poderia querer falar comigo. Não costumo receber telefonemas das mães dos meus amigos. Só pode ser alguma coisa séria.

— Oi, Sra. Lindenberg. Como vai?

— Miguel... Você precisa me ajudar... – Algo ruim se remexe dentro de mim quando ouço a voz de Érica entrecortada por soluços. Parece muito angustiada e dá a impressão de que vai cair em prantos a qualquer momento. – Por favor... Preciso que venha à minha casa...

— O que está acontecendo? Cadê o Adrian?

— O Adrian está muito mal. Precisa de ajuda.

— O que ele tem?

— Não sei. Mas estou com medo. Por favor, me ajude.

Surpreendentemente, parece que a história de um ano e meio atrás está se repetindo. Quando Érica termina de falar, largo o telefone e vou para lá imediatamente.

Não faço ideia do que ela espera que eu faça. Que eu fale com ele, talvez. Mas se ela não conseguiu fazer isso, que chances eu tenho de conseguir?

A porta está aberta. O quarto está uma bagunça tremenda, com roupa de cama, livros e cadernos com folhas arrancadas e espalhadas. Parece até que passou um furacão por aqui. Adrian está sentado no chão, ao lado da cama, com os braços dobrados sobre os joelhos, a cabeça escondida entre os braços. Há um enorme rasgo na altura do joelho da bermuda – como se essa área tivesse sido arrancada por uma mordida. Suas roupas estão manchadas, sujas de poeira e suor, e tem uma leve sombra de barba escurecendo o maxilar e o queixo. Me aproximo dele lentamente e o mesmo só percebe a minha presença quando solto um pigarro.

— Miguel? – pergunta, surpreso.

Vê-lo assim, com os olhos tão vermelhos como se tivessem sido mergulhados em sangue, faz com que algo dentro de Miguel exploda em miséria. Como alguém pode deixar tudo chegar a esse ponto?

— Não dá para acreditar...

— O que faz aqui?

— Te pergunto o mesmo. O que está fazendo aí, sentado? O que deu em você?

Adrian se levanta de repente. Tenho medo que ele se altere e tente me bater outra vez. Não seria justo vir de tão longe para, no final, me sentir ainda pior.

Ele agarra a maçaneta e puxa a porta com força.

— Sai do meu quarto, Miguel! Fora daqui!

— Você não é o Adrian que eu conheço.

— Que diabos você quer?

— Eu quero te ajudar. Você não vê o que está fazendo? Está se auto destruindo. Está fazendo sua mãe chorar. Devia ter visto como ela ficou.

Adrian enterra as mãos nos cabelos, soltando um suspiro angustiado. Ouso me aproximar mais.

— Já disse para sair! Não ouviu? Sai daqui agora mesmo!

— Não até você me contar o que está te deixando assim. O que pretende? Se matar? Matar a sua mãe de tristeza? Se é isso, meus parabéns, pois está conseguindo.

— Veio para debochar de mim?

— Claro que não. Vim para te ajudar. Adrian, olhe para mim. Este não é você. Anda, sai dessa. Não deixa essa tempestade te vencer.

Para Sempre - A EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora