Capítulo 35 - Entre segredos e mentiras

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Larissa

Qual o valor de uma lágrima? Quantas lágrimas são necessárias para se afogar um coração? Eu achava que já tinha chorado o bastante esta semana, mas hoje comprovei que não existe limite para a tristeza. E que eu sou, definitivamente, a garota mais estúpida do mundo.

Eu sabia que não conseguiria suportar ver Adrian em um encontro romântico com outra garota, mesmo tentando ignorar, ou pelo menos fingir que nada está acontecendo. Também não conseguiria evitar que meus sentimentos viessem à tona — principalmente depois do que eu vi —, mas a última coisa que eu quero é começar a chorar na frente da minha mãe e do meu namorado. As coisas já não andam muito bem entre nós, por isso escolho sair de cena antes que as coisas fiquem ainda mais complicadas.

Se bem que, para as coisas ficarem piores, está difícil.

— Victor, eu quero ir para casa — digo, levantando-me depressa.

— Por que, meu amor? Acabamos de chegar. E nós ainda nem jantamos.

— Sinto muito. Não estou me sentindo bem.

— Está se sentindo mal, filha? O que você tem?

— Estou com dor de cabeça.

O que não é de tudo mentira. Diante de tantas tribulações, parece que a minha cabeça vai explodir a qualquer momento.

— Acho que tenho um comprimido aqui na bolsa.

— Não precisa. Vou lá fora tomar um pouco de ar.

— Espere! — exclama Victor. — Vou com você.

— Não! Quero dizer... — Forço um sorriso. — Tá tudo bem, Victor. Vou sozinha.

Saio depressa, de alguma forma conseguindo segurar as lágrimas até cruzar a porta.

Chegando lá fora, onde a brisa fresca da noite faz meus cabelos esvoaçarem, não aguento segurar as lágrimas e deixo que rolem. Me abraço, como se pudesse me proteger do ar. Ainda bem que não tem ninguém à vista, porque assim posso deixar o choro rolar solto.

Mas não por muito tempo.

— Filha, você está bem? — diz uma voz atrás de mim, e sem querer deixo escapar um suspiro trêmulo.

Enxugo as lágrimas depressa e me viro.

— Oi, mãe. Er... Fora a leve dor de cabeça que estou sentindo, estou bem, sim. Mas por que a pergunta?

— Porque parece que você andou chorando.

— Chorando? Eu? — pergunto sem pensar. Não quero mentir para minha mãe, mas também não estou a fim de preocupá-la ainda mais. — Não. Claro que não. Acho que caiu alguma coisa no meu olho.

Bárbara estreita os olhos para mim. Claro que esse papo não vai colar. Estou claramente insultando sua inteligência.

— Tem certeza? Não tem nada para me contar?

— Não. O que eu teria para contar?

— Está tendo problemas na escola? Ou com seu namorado?

— Não tenho problema nenhum, mamãe. — Desta vez falo com firmeza. — Víctor e eu estamos bem. Não há nada de errado com a gente. E na escola nunca estive melhor. Eu tenho amigos e eles gostam de mim.

— Não sei porque, mas acho que você não está sendo sincera comigo.

— Não acredita em mim? Estou sendo sincera.

Bárbara fica me encarando, e embora esteja na cara que ela não acreditou em nada do que eu disse, não pergunta mais nada. Simplesmente dá de ombros e fala:

— Tudo bem. Podemos falar sobre isso depois. Você quer ficar aqui ou quer ir embora?

Estou prestes a responder quando ouço passos e vozes vindo em nossa direção. São Adrian e Roberta. Conversam animadamente.

— O que achou da comida?

— Eu adorei. Estava uma delícia.

Olho para o lado. Não estou nem um pouco a fim de encará-los. Torço para que passem direto por nós, mas, para minha infelicidade, isso não acontece. Quando Roberta nos avista, pára para nos cumprimentar.

— Boa noite. Oi, Larissa.

— Oi — respondo, com um muxoxo.

— Mas que noite linda, não? — diz Bárbara, puxando assunto.

— Maravilhosa. A propósito, me chamo Roberta.

— Prazer. Me chamo Bárbara.

— O prazer é todo meu. Larissa e eu somos colegas de classe. O Adrian também.

— Muito prazer em conhecê-los.

Adrian sorri, depois olha para mim. Faço um esforço gigantesco para não olhar de volta.

— Como vai, Larissa? Tudo bem?

— Tudo. E você?

— Bem, na minha do possível.

Não resisto e levanto os olhos para ele. Como está lindo. Ah, como eu queria estar no lugar dela...

— Boa noite!

Victor se aproxima. Encarando Adrian, anda devagarinho em minha direção e toca levemente o meu ombro.

— Boa noite — responde Adrian sem hesitar.

— Pedi para o garçom embalar nosso jantar. Podemos ir embora se você quiser.

— Eu quero, sim. Podemos ir agora?

— Claro que podemos, meu amor. — Víctor me envolve num abraço e beija minha testa. — Agora mesmo.

Se Adrian se sente incomodado, não demonstra. Ao contrário. Ele se aproxima de Roberta e envolve sua cintura, trazendo-a para junto dele como se quisesse guardá-la.

— Como dizem por aí, a noite é uma criança. Roberta, o que acha de irmos ao cinema?

— Eu adoraria.

— Então não se fala mais nisso. Boa noite à todos. Foi um prazer vê-los. Principalmente você, Larissa. Está muito bem hoje.

— Gentileza sua.

— Boa noite — Bárbara responde. — O prazer foi todo nosso.

Os dois, então, saem, seguindo rua abaixo. Uma vontade alucinante de chorar me invade, mas felizmente consigo conter as lágrimas.

Não aguento mais isso. Estou farta de pensar nele. Estou farta de sofrer. De dias e noites de choro. Estou presa em minha tristeza, e pressinto que é apenas uma questão de tempo até que eu perca minha sanidade por completo.

Cada vez mais se aproxima o dia que deveria ser o melhor da minha vida. O que será de mim a partir de então?

Só o tempo dirá.

Para Sempre - A EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora