Capítulo 13 - A nova Larissa

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Larissa

Eu o viu de novo.

Não é possível! Depois de oito longos meses, nossos olhares se cruzaram novamente. Passei tanto tempo tentando evitar isso e agora estou perdida.

Naquele momento eu senti raiva. Muita raiva. Tentei fingir que não o tinha visto. Olhei para baixo, tentando parecer distraída, mas não pude evitar. Foi mais forte do que eu.

É estranho revê-lo. Por um lado, sinto uma raiva profunda por ele ter me desprezado no passado, mas, por outro, não posso deixar de sentir um certo entusiasmo por estar de novo em seu caminho. Meus sentimentos por ele continuam intactos, assim como as feridas causadas por sua frieza. Mas tudo em mim mudou completamente, incluindo a forma de ver o mundo. Nada sobrou daquilo que um dia eu fui.

Também é estranho estar de volta ao lugar que costumava nomear como minha segunda casa, e onde, ironicamente, passei a pior fase da minha vida. Tudo está do mesmo jeito, com exceção do jardim, que agora está mais florido do que nunca. Os quartos continuam iguais: amplos, confortáveis e limpos. E o Salão Principal continua impecável como sempre. Tudo está perfeito.

Pena! Nenhum detalhe deste lugar me traz boas recordações. Só consigo lembrar de ter chorado até secar as lágrimas, de ter sido humilhada e rejeitada por todos, de ter me apaixonado perdidamente por alguém que nunca sequer olhou para mim, e de ter sido idiota o bastante para acreditar que com apenas uma carta de amor os sentimentos dele por mim mudariam. Foi o que eu fiz. Mas nunca obtive resposta. E nada mudou para mim.

***

Eis minha história: eu era uma garota comum, de quinze anos, que tinha se mudado para o Rio de Janeiro com meus pais a procura de uma vida melhor. Morava em Montes Claros, um município no norte de Minas Gerais. Minha casa era pequena e simples, pois meus pais pretendiam guardar dinheiro para comprar uma casa maior em São Paulo. Meu pai – Ângelo – trabalhava como pedreiro em uma construtora, e minha mãe – Bárbara – era babá. Meus dias eram todos mais ou menos parecidos: acordava, ia para o colégio, à tarde ajudava a mamãe com os afazeres domésticos e, à noite, fazia os deveres de casa e assistia à TV.

Sempre fui assim: extremamente tímida, fechada e recatada. Além disso, era desajeitada e não tinha boa aparência. Usava roupas largas para não notarem minha magreza; meus cabelos cor-de-palha viviam presos em um coque no topo da cabeça, com franjas cobrindo grande parte da testa; usava óculos enormes, ovais, com armação transparente. E, para finalizar, usava aparelho desde os 13 anos.

Eu adorava estudar. Sonhava em ser cirurgiã plástica. Mas nunca entendi por que meus pais decidiram me colocar num internato. Imaginava que tivesse a ver com o futuro brilhante que eles tanto almejavam para mim, o qual não tiveram devido às dificuldades financeiras. Eles se preocupavam muito com minha opção profissional. Queriam que eu me formasse em medicina e, do ponto de vista deles, aquela era uma oportunidade irrecusável, mas confessava que não era bem isso que eu tinha em mente.

Tentei falar com eles várias vezes sobre o assunto, porém eles já tinham tomado a decisão. E, por fim, não tive escolha senão concordar. Assim que nos mudamos para São Paulo, meus pais me enviaram para Crossfield, o internato mais bem falado da região. Foi quando meu pesadelo teve início.

Nunca tive muitos amigos. Na minha antiga escola – St. Hubertus –, as pessoas mal olhavam para mim, me achavam esquisita e sem graça e nunca me convidavam para sair. E, como se não bastasse essa situação desconfortável, eu era apaixonada pelo garoto mais bonito e mais popular de St. Hubertus. Ele tinha cabelos loiros iguais aos meus e olhos tão azuis como um lago cristalino. Seu nome era Adrian, e embora ele não tivesse reparado em mim na primeira vez em que nos esbarramos, eu jamais consegui apagar o rosto dele da minha memória. Mas nas diversas vezes em que tentei falar com ele, Adrian me ignorou e me evitou como se eu fosse portadora de um mal terrível. Ironicamente, sua frieza fazia o meu amor por ele crescer cada dia mais.

Para Sempre - A EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora