Capítulo 14 - Cheiro de encrenca

153 11 2
                                    


Abril de 2013


Quase nove meses depois da fantástica transformação, estou de volta ao meu antigo internato, para onde Viviane, minha melhor amiga, me aconselhou a voltar. Para dizer a verdade, não sei dizer ao certo como me sinto. Estou feliz, entusiasmada, mas ao mesmo tempo uma infinidade de pensamentos preocupantes ronda a minha cabeça.

Enquanto cruzo o enorme corredor em direção ao Salão Principal, não evito sorrir largamente ao perceber que todo mundo está me observando, e fico bastante surpresa quando percebo Adrian Martins Lindenberg metido no meio da pequena multidão de curiosos que se comprime bem atrás de mim. Quando, involuntariamente, nossos olhos se encontram, algo dentro de mim se agita. Enquanto nos encaramos, meu coração dá um grito, angustiado. Estou certa de que o destino o pôs de novo em meu caminho. Mas, desta vez, tudo será diferente. Não será como antes, em que todos – incluindo ele – pisavam em mim e eu deixava. Aconteça o que acontecer, jamais demonstrarei fraqueza novamente.

No Salão Principal, alunos sobem e descem a escadaria como se estivessem numa maratona de longos intervalos. Vozes soam em sincronia por todo lado, as palavras indistinguíveis. Sapatos batem descompassadamente no chão de mármore, e de vez em quando ouço pigarros e resmungos. É disso que eu mais sentia falta. Da tagarelice familiar, do barulho da escola. Eu vivia em um mundo de silêncio, do qual finalmente consegui me libertar. O destino me levou para longe, mas agora estou de volta. Voltar a fazer parte deste mundo é quase um privilégio.

Decido aproveitar o tempo livre que me resta para dar uma volta pelo prédio. Começando pelo jardim, meu lugar favorito. Ignorando os olhares surpresos que continuam a me encarar, sigo em direção à saída. E eis que me deparo com quem eu menos quero: Adrian. Ele vem com tanta pressa que nossos narizes quase colidem.

— Você não olha por onde anda? – pergunta ele com a arrogância de sempre.

— Adrian... Quanto tempo! – É tudo o que me ocorre dizer. – Ainda lembra de mim?

— Infelizmente, sim. Sua cara é inconfundível.

Por que ainda me sinto incomodada com sua forma arrogante e mal educada de se dirigir a mim?, me pergunto. Eu não deveria dar a mínima importância.

— Isso, sim, é que é uma grande surpresa – recomeça ele. – Ou talvez deva dizer que é um milagre. O que aconteceu com você?

— Eu simplesmente mudei.

— Simplesmente? Olhe para você, garota. Está irreconhecível.

— Posso encarar isso como um elogio?

Adrian solta um suspiro de impaciência.

— Olhe, encare como quiser. Só não se esqueça de uma coisa. Isso não a torna melhor do que ninguém. Se o que pretende é buscar popularidade, lamento dizer, querida, que veio ao lugar errado. Deve se lembrar de como as pessoas daqui tratavam você, de como elas te humilhavam e te insultavam por ser a... como era mesmo o seu apelido? Ah, lembrei. A 'Garota Estranha que Ninguém Suportava'. Francamente, não entendo como ainda tem coragem de voltar a aparecer neste lugar.

Estou me segurando para não voar em cima dele e arrancar seus olhos. Parece inacreditável que, mesmo depois de tudo que fiz para mudar a aparência e meu jeito de ser, ele continue a me tratar feito lixo. Quem ele pensa que é?

— Em primeiro lugar, tudo isso faz parte do passado. Eu aprendi a me amar. Aprendi a confiar em mim mesma. Era disso que eu precisava. Você, pelo contrário, não mudou nada. Continua sendo aquele mesmo sujeito arrogante e frio que conheci na sétima série.

Para Sempre - A EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora