Capítulo 19 - Adeus para sempre

152 11 0
                                    


Agosto de 2013


Hannah

Eu o vi, parado em frente ao portão da escola, poucos minutos antes do ônibus chegar. Usava uma camiseta roxa – com a frase I'M SON OF GOD AND WAS BORN TO WIN na frente –, um casaco preto, shorts cinza-claro e um all star branco. Parecia deprimido. Seria por minha causa? Estaria sentindo minha falta? Por um instante, ele levantou a cabeça e, ao me ver parada do outro lado da rua, me encarou intensamente, o que me fez estremecer. "Oh, meu Deus! Aqueles olhos lindos, azuis como o mar! Aquela maneira de me olhar... Eu não quero perder isso. Preciso disso, como o ar que respiro!"

Quando o ônibus chegou e Adrian começou a subir, não pude evitar derramar uma lágrima. Era eu quem deveria estar subindo naquele ônibus com ele, mas havia outra em meu lugar. Depois que todos subiram, o ônibus arrancou, sumindo ao virar a esquina. Enquanto eu corria de volta para casa, jurei a mim mesma que aquelas lágrimas seriam as últimas.

Agora, não há nada que eu deseje mais do que dar o troco em Larissa, fazê-la pagar por ter se metido comigo. Larissa pode ter vencido a primeira batalha, mas a guerra ainda não acabou. Seguirei em frente, pois no fundo sei que um dia – talvez não muito distante – voltaremos a nos encontrar.

Um dia, Larissa. Um dia.

***

— Por que está tão isolada, filha? – a voz rouca do meu pai me tira dos meus pensamentos. – O que faz aí, sozinha?

— Estava pensando em tudo o que aconteceu nos últimos meses – digo, com as mãos à altura da boca. Não há mais como chorar. A questão a partir disso é "chorar o quê"? Já sequei meu corpo de tanto chorar. Estou esgotada, destruída. Não aguento mais sentir sobre mim, no canto escuro de uma sala de velório, os olhares de pena e dor.

— A culpa é toda minha. Eu não deveria... – Meu pai, não conseguindo terminar a frase, me abraça chorando.

Não consigo falar, e retribuo o abraço. Mas fico curiosa em saber o que ele não deveria ter feito, ou dito. Ele me solta, pede desculpas e vai ao banheiro. Olho para o relógio: 09:38 A.M. Restam mais 22 minutos, até que não a verei mais.

***

Os flashes de tudo o que aconteceu comigo nos últimos sete meses passam como estrelas cadentes diante dos meus olhos.

Lembro de ter dito aos meus amigos que minha vida se transformou numa verdadeira bagunça desde que descobri que minha mãe estava com câncer encefálico. Lembro também de ter chorado como nunca quando soube que sua doença já estava num estágio muito avançado e que nada no mundo poderia mudar isso. Segundo os médicos, lhe restavam alguns meses de vida. Três meses, no máximo.

Foi a pior coisa que eu já ouvi. Não queria aceitar que os dias da minha mãe estivessem contados, que cada minuto da sua vida fosse decisivo. Alexandra era uma mulher jovem, determinada, e como eu gostava de dizer para as minhas amigas, inteligente e encantadora. Conseguia sempre me acalmar e evitava, várias vezes, que eu agisse de forma impulsiva e precipitada. Cuidava de mim e da minha irmã caçula de modo espontâneo, como se, apesar das diferenças de aparência, temperamento e circunstâncias imediatas, ambas (Maria Clara e eu) fôssemos uma pessoa só. No entanto, lembrar do quanto Alexandra foi boa para mim faz minha dor aumentar cada vez mais. Ela não merecia morrer desse jeito. Deus não poderia levá-la assim.

Mas foi como se Deus estivesse definitivamente decidido a levá-la e nada pudesse fazê-lo voltar atrás. Apesar do intenso tratamento ao qual Alexandra foi submetida, ela não apresentava sinais de melhora. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, mas foi inevitável que seu caso viesse a se agravar. Duas semanas antes do mês de Junho, Alexandra entrou em coma.

Para Sempre - A EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora