Capítulo 12 - Ela chega!

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Boa parte de mim deseja saber por quanto tempo mais vou poder suportar tudo isso. Na semana passada, fui arremetido pelo desprezo dos meus melhores amigos. Tentei argumentar com eles, me explicar, mas a mágoa que causei neles era demais para que eles enxergassem com clareza minhas reais intenções. E quando o fim de semana chegou, eu já não sabia mais o que fazer.

"Eu fui um tremendo imbecil. Um imbecil que cometeu um erro e está tentando remediar as coisas, mas ainda assim um imbecil". Apesar de saber que, no fundo, eu mereço ser desprezado, está ficando cada vez mais difícil lidar com isso.

— As palavras possuem uma força que vai além da nossa imaginação – dizia meu pai, quando eu ainda dispunha de seus conselhos. – Magoar é fácil porque estamos tão condicionados a agir sem pensar que as vezes machucamos os outros sem ao menos querermos.

"Mas, se é tão fácil magoar alguém, por que é tão difícil pedir perdão?"

— Porque muitas pessoas não sabem o que significa a palavra "perdão" – dizia ele, como se tivesse lido meus pensamentos. – Ou, se sabem, não estão dispostos ou preparados para perdoar verdadeiramente.

"O perdão não é só pedir desculpas. Fazendo assim, você está admitindo o problema, mas não sua responsabilidade. Perdoar não é arquivar os erros. Não é fingir que não houve nada de errado. É muito comum a pessoa continuar vivendo como se não houvesse problema algum. Se é assim que você está lidando com a situação, não se surpreenda se o problema voltar a persegui-lo.

"Perdoar não é tolerar um ato mau ou prejudicial. Tolerar significa que a pessoa declara que na verdade o ato não foi errado ou mau. Quando há perdão, uma pessoa admite que o ato foi errado ou mau, mas escolhe perdoar apesar disso."

Desperto de meus devaneios quando sinto uma mão pousar de leve no meu ombro e apertá-lo.

— O que aconteceu, Adrian? – pergunta Érica. – Por que parece tão distante? Algo errado?

Balanço a cabeça e falo que está tudo bem, tentando fingir naturalidade na voz.

— Se não quiser me contar, tudo bem. – Ela não está zangada. Uma das coisas que eu mais gosto em Érica é que, quando ela percebe que não estou pronto para iniciar uma conversa ou falar dos meus problemas, ela me dá um tempo para pensar, certa de que cedo ou tarde eu irei procurá-la para pedir conselhos. – Quando estiver pronto para desabafar, sabe onde me encontrar. Mas não demore muito para pensar, ok?

Uma euforia repentina brota em mim. É uma coisa que eu não consigo evitar. Érica tem esse efeito sobre mim. Por essa e outras razões eu adoro estar com ela. Se existe alguém na terra disposta a tudo para colocar um sorriso em meu rosto, mesmo quando há motivos indiscutíveis para chorar, esse alguém é ela.

Quando chego ao internato na segunda-feira, estou preocupado com a ideia de não conseguir falar com Miguel antes das aulas começarem. Sei exatamente onde encontrá-lo. No dormitório.

A porta do quarto está entreaberta, e ao ouvir os acordes de violão vindo de dentro, suponho que não apenas Miguel, mas todos estão aqui. É o momento perfeito. Empurro a porta com o pulso acelerado, sem saber ao certo o que vai acontecer. De fato, todos estão presentes, mas apenas um deles levanta o rosto quando percebe que estou entrando. É Miguel. Ele me encara por um segundo, depois baixa a cabeça. Quanto tempo pode durar o rancor de uma pessoa?

— Bom dia... – digo finalmente. – Tudo bem com vocês?

Todos permanecem calados. Olho para cada um deles. Eles continuam cabisbaixos enquanto procuro as palavras exatas.

Para Sempre - A EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora