Capítulo 6 - Clearing

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Francamente?— ele me olhou nos olhos e riu - Não. - desviou o olhar. -

Ficamos em silêncio. Encarei e li o papel mais uma vez. Será?

—Eu acredito em destino. - ele quebrou o gelo com a voz grave. -

Destino. Então essa era a palavra.

—Sabe... - encarei o papel e o remexi entre os dedos - Você é diferente, não é? - o fitei, procurando respostas conclusivas -

O silêncio permaneceu por alguns segundos.

—Bom, eu acho que sou humano, como todos os outros. - ele esboçou um riso interno e seu olhar pareceu confuso -

Sua resposta me fez sorrir.

—É, você é diferente. - levantei-me e coloquei-me a andar pelo pequeno bosque curto que se formava ao fundo da praça. -

—Aonde você vai? - ele correu atrás de mim -

—Andar, espairecer. - respirei fundo -

—Então, quer ficar sozinha, não é? - ele pareceu triste -

—Não. - disse de imediato, me virando para olhá-lo. - Fique, por favor. - me peguei desprevenida nas palavras. -

Ele sorriu.

—Está bem.

Andamos alguns passos, até que decidimos nos sentar na relva verde e aproveitar os feixes de luz do Sol que passavam por entre as árvores.

—E então, me conte mais sobre você. - ele quis saber -

—O que quer saber? - o olhei, curiosa. -

—Tudo.

Complicado.

—Bom, minha vida mudou bastante ao longo desses anos. - tentei reunir os fatos mais importantes para "entender" a minha vida. -

—Em que pontos? - ele se aproximou, sentando mais perto de mim. -

—Em vários, na verdade. Vou tentar explicar. - sorri -

Ele se acomodou, encostando numa grande pedra atrás de si e depois, colocou as mãos nos bolsos, como uma criança pronta para ouvir uma boa história.

—Bom, eu tinha 6 anos quando meus pais se separaram. Eles sempre brigavam muito e eu nunca soube direito o por quê. Eu sabia que, alguns dias as brigas eram porque meu pai sempre gostou de beber destilados, então ia sempre num cassino perto de casa, porque vivíamos bem, tínhamos muito dinheiro e consequentemente morávamos num bom bairro. Minha mãe sempre foi escandalosa, porém naquela época tinha um pouco de classe e deixava os "barracos" de lado.

Eu ri sozinha, numa pausa, o que fez ele atentar o olhar para mim.

—O que foi? - ele sorriu -

—Nada. Quer dizer... - sorri - Era engraçado como éramos felizes. Apesar de estar quase todos os fins de semana depois que Edward nasceu, num cassino, meu pai era bom. Minha mãe era sorridente, feliz, eles se amavam, sabe? - encarei as nuvens, lembrando com saudade. - Todas as noites que eu ia na cama deles perturbar, fazíamos daquilo um parque de diversões. Brincávamos de várias coisas, dávamos risadas, assistíamos desenhos e no fim, dormíamos abraçados. Meu pai trabalhava e minha mãe ficava comigo. Íamos na casa de meus avós, por vezes, passávamos tardes brincando no jardim ou mesmo no tapete da sala. Mesmo depois de Edward nascer, tudo era bom, mas não durou muito. Quando eu tinha 3 anos, as brigas se tornaram mais intensas, mais frequentes e não pediam licença para invadir o lar de paz que tínhamos. Eu passava dias na casa dos meus avós, porque eles brigavam e viajavam para se resolverem, mas eu acabei descobrindo que era só fachada. Eles brigavam ainda mais quando estavam sozinhos. - sorri, tentando animar a história. - Mas, enfim, minha mãe descobriu que estava grávida. Eu fiquei radiante com a ideia de ter um irmãozinho e poder brincar com ele. Meu pai e minha mãe estavam muito felizes, ainda mais quando descobriram que era um garotinho, porque diziam que então formaria um casal de irmãos. Quando Edward nasceu foi o maior alvoroço para ir ao hospital, nunca me esqueço daquele dia. Eu estava mais feliz do que se estivesse na Disney.

Assim, do meu jeito.Onde histórias criam vida. Descubra agora