Capítulo 04

311 12 0
                                    




O grupo de biólogos, dirigido pelo experiente doutor Sérgio Diaz, chegou a Amarração por volta

das onze da manhã. Portanto, mais cedo do que Delvechio e Eliana previram. Aparentando uma

sintonia perfeita, os cinco membros do grupo, incluindo o próprio Diaz, estavam empolgadíssimos com

o assunto. Foram direto dar uma boa espiada nos espécimes. Num primeiro contato com o laboratório

não estranharam o frio, ao qual toda a equipe já estava acostumada em seu ambiente de trabalho.

Passados os primeiros minutos, porém, perceberam que o frio era excessivo.

Na hora seguinte, a equipe do doutor Diaz já estava com a mão na massa. Preparavam os sete

para serem trasladados para a capital, direto para a Universidade, onde estariam mais bem equipados

para os exames profundos. Ali, no laboratório improvisado, poderiam fazer pouca coisa. O combustível

maior da viagem de seu grupo era a curiosidade. Ver de perto os espécimes portugueses. Deram início

a uma espécie de autópsia. Escolheram o cadáver que parecia menos deteriorado para servir de

primeiro objeto de estudo. Os outros seriam submetidos a um ritual mais completo quando estivessem

todos devidamente instalados em Porto Alegre.

Os sete espécimes estavam cobertos por grossos lençóis. O canto do grande salão onde estavam

separados parecia muito mais gelado do que o centro da sala. Diaz olhou para o teto, procurando tubos

onde provavelmente ficaria a descarga principal do ar-condicionado. Nada encontrou, mas sua dedução

não deveria diferir muito do que acontecia. O frio parecia aumentar a cada meia hora. Todos lá dentro

transitavam com blusas grossas.

Diaz separou seu espécime dos demais, trazendo-o para debaixo da instalação luminosa. O

cadáver estava geladíssimo. Aparentemente estava absorvendo o frio muito mais que os outros. Ao

contrário dos demais, esse espécime tinha a musculatura muito mais definida e pouco do aspecto seco

do restante do grupo. Era como se houvesse deteriorado bem menos que seus irmãos. Diaz descobriria

por quê. O rosto do escolhido apresentava a pele menos danificada, sendo quase possível determinar

suas feições exatas. As pálpebras estavam cerradas como as dos outros, mas não eram profundas,

aliviando o aspecto bizarro. Realmente era bem diferente dos demais. O corpo estava praticamente nu.

Havia resquícios de roupas nos dois punhos e também entre as pernas; o pouco tecido que restara

parecia queimado. Enquanto os outros seis possuíam as fossas nasais expostas, este, ao contrário,

tinha o nariz ainda formado. Era grande e parecia existir um desvio de septo. Provavelmente o homem

havia sido espancado antes da execução. Notou no orifício nasal esquerdo uma cintilação estranha, algo

como um líquido, principiando a escorrer para fora. Para Diaz, o mais intrigante, no entanto, era a

baixa temperatura que o corpo apresentava. Mesmo com a luva emborrachada, tinha certeza de que, se

mantivesse a palma sobre o peito do cadáver, em poucos segundos sentiria aquela desagradável

Os seteOnde histórias criam vida. Descubra agora