O grupo de biólogos, dirigido pelo experiente doutor Sérgio Diaz, chegou a Amarração por voltadas onze da manhã. Portanto, mais cedo do que Delvechio e Eliana previram. Aparentando uma
sintonia perfeita, os cinco membros do grupo, incluindo o próprio Diaz, estavam empolgadíssimos com
o assunto. Foram direto dar uma boa espiada nos espécimes. Num primeiro contato com o laboratório
não estranharam o frio, ao qual toda a equipe já estava acostumada em seu ambiente de trabalho.
Passados os primeiros minutos, porém, perceberam que o frio era excessivo.
Na hora seguinte, a equipe do doutor Diaz já estava com a mão na massa. Preparavam os sete
para serem trasladados para a capital, direto para a Universidade, onde estariam mais bem equipados
para os exames profundos. Ali, no laboratório improvisado, poderiam fazer pouca coisa. O combustível
maior da viagem de seu grupo era a curiosidade. Ver de perto os espécimes portugueses. Deram início
a uma espécie de autópsia. Escolheram o cadáver que parecia menos deteriorado para servir de
primeiro objeto de estudo. Os outros seriam submetidos a um ritual mais completo quando estivessem
todos devidamente instalados em Porto Alegre.
Os sete espécimes estavam cobertos por grossos lençóis. O canto do grande salão onde estavam
separados parecia muito mais gelado do que o centro da sala. Diaz olhou para o teto, procurando tubos
onde provavelmente ficaria a descarga principal do ar-condicionado. Nada encontrou, mas sua dedução
não deveria diferir muito do que acontecia. O frio parecia aumentar a cada meia hora. Todos lá dentro
transitavam com blusas grossas.
Diaz separou seu espécime dos demais, trazendo-o para debaixo da instalação luminosa. O
cadáver estava geladíssimo. Aparentemente estava absorvendo o frio muito mais que os outros. Ao
contrário dos demais, esse espécime tinha a musculatura muito mais definida e pouco do aspecto seco
do restante do grupo. Era como se houvesse deteriorado bem menos que seus irmãos. Diaz descobriria
por quê. O rosto do escolhido apresentava a pele menos danificada, sendo quase possível determinar
suas feições exatas. As pálpebras estavam cerradas como as dos outros, mas não eram profundas,
aliviando o aspecto bizarro. Realmente era bem diferente dos demais. O corpo estava praticamente nu.
Havia resquícios de roupas nos dois punhos e também entre as pernas; o pouco tecido que restara
parecia queimado. Enquanto os outros seis possuíam as fossas nasais expostas, este, ao contrário,
tinha o nariz ainda formado. Era grande e parecia existir um desvio de septo. Provavelmente o homem
havia sido espancado antes da execução. Notou no orifício nasal esquerdo uma cintilação estranha, algo
como um líquido, principiando a escorrer para fora. Para Diaz, o mais intrigante, no entanto, era a
baixa temperatura que o corpo apresentava. Mesmo com a luva emborrachada, tinha certeza de que, se
mantivesse a palma sobre o peito do cadáver, em poucos segundos sentiria aquela desagradável
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Os sete
HorrorDo mesmo autor de "O Senhor da Chuva", Adré Vianco. Lançado de forma independente em 2000, Os Sete, de André Vianco, conquistou uma multidão de fãs e se tornou um best-seller, vendendo mais de 100 mil exemplares. O sucesso foi tão grande que consagr...