Manuel já havia se acostumado ao som das goteiras. O barulhinho era entediante, bem diferente
daquele embalado dos tais Guns N' Roses. Ele havia apanhado o aparelho de produzir música, mas
aparentemente precisava de uma fonte constante de energia elétrica. Por mais que revirasse suas
alavancas pequeninas, não conseguia extrair uma nota sequer. Já começava a sentir saudade do jeito
engraçado daquela voz mágica falar, descrevendo as músicas que haviam escutado e as próximas a
serem ouvidas. Haviam ficado a bordo da serpente de ferro até atravessar o túnel encravado na
montanha. Como faltavam apenas duas horas para a alvorada, decidiram saltar da serpente, deixando-a
seguir sozinha seu caminho. Tinham de improvisar um abrigo seguro, e aquele túnel na montanha
parecia seguro o suficiente. Era extenso e curvo e certamente haveria de bloquear a mortal luz do sol.
Tiveram de voltar alguns quilômetros até chegar ao túnel. As paredes internas eram feitas de pedra, e
em vários pontos havia goteiras de água cristalina despencando do teto. Devido à sua extensão,
assemelhava-se a uma legítima caverna. Em diversos trechos encontraram reentrâncias grandes o
suficiente para caberem os dois. Queriam algum lugar bem no meio da curva, na face oposta, onde,
mesmo que o sol ali chegasse, estariam protegidos. Encontraram uma reentrância, mas precisaram retirar
algumas pedras para que a toca abrigasse os dois. Manuel ficou mais ao fundo. Como Guilherme
era mais alto, tapava-lhe toda a visão. Entretanto, mesmo com toda a precaução, se alguma luz do sol
chegasse, pegaria o parceiro primeiro, em vez dele, ou os dois ao mesmo tempo. Ficaram de pé, e era
assim que adormeceriam naquele novo dia. Em pé, encovados no túnel escuro.
- Quanto tempo leva? - perguntou o menor.
- Depende do cagaço, piá. Os dois maiores riram.
Humberto ficou sem entender. Era o mais novo, com nove anos. Os dois maiores, Renan e
Aparecido, tinham treze anos cada um. Eram mais espertos e mais valentes. Estavam acostumados com
aquela travessia. Para ele, era a primeira vez.
- Agora só falta este morro.
Escalaram uma subida íngreme, agarrando-se nas raízes de mato para vencer o percurso. O morro
tinha uns doze metros, alto o suficiente para se machucar numa queda acidental. Aparecido chegou
primeiro ao topo e estendeu a blusa para o pequeno Humberto subir mais confortavelmente. Lá em
cima, logo nos primeiros metros, o chão de terra vermelha se cobria da brita que forrava a estrada de
ferro. Os trilhos sobre os dormentes corriam rasteiros, retos e paralelos, até lá na frente, a uns trinta
metros, quando sumiam na boca escura da caverna. Era assim que os meninos da vila chamavam o
túnel. A caverna. Era bastante comprido, e seus duzentos e setenta metros rendiam aventuras
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Os sete
HorrorDo mesmo autor de "O Senhor da Chuva", Adré Vianco. Lançado de forma independente em 2000, Os Sete, de André Vianco, conquistou uma multidão de fãs e se tornou um best-seller, vendendo mais de 100 mil exemplares. O sucesso foi tão grande que consagr...