Capítulo 24

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Até agora nossa preocupação maior era manter esses fatos afastados da população, evitar

alvoroço, pânico. Imaginem a população brasileira recebendo a notícia de que um bando de vampiros

está à solta nas ruas. Mas agora, senhores, a coisa mudou de figura. Tenho ordens de capturá-los ou,

preferencialmente, destruí-los, custe o que custar. Essas ordens vêm de meu general, reforçadas por

nosso presidente da República.

Todos estavam reunidos na sala de mesa oval. Ouviam Brites expor a situação atual da operação

e aguardavam instruções e táticas para proceder diante dos novos acontecimentos. Os vampiros tinham

passado por cima dos militares de novo e, à custa de vidas de soldados, haviam feito livres os corpos

restantes. Tinham, não se sabia como, localizado os cadáveres. Não havia como vazar. A informação

era sigilosa. Depois deste último ataque ficou mais claro do que nunca que lidavam com criaturas

cruéis e dotadas de poderes sobrenaturais. Mantinham encarcerados em uma sala da USPA cerca de

quinze corpos que haviam sido declarados, comprovadamente, mortos e que agora gritavam, choravam

e se arremessavam contra as paredes do cômodo. Quinze mortos-vivos!

- A imprensa nacional nos cobra uma posição oficial quanto ao incidente em Porto Alegre e em

Amarração. Ninguém é cego. Todos perceberam uma movimentação anormal de nossas tropas nesses

últimos dias. - prosseguiu Brites, o tenente do grupo de Operações Especiais. - Todos os militares e

civis estão terminantemente proibidos de prestar declarações à imprensa sob pena de reclusão.

Imaginem vocês a população sabendo que um desses vampiros é capaz de ressuscitar os mortos e que

zumbis desorientados estão zanzando pelas ruas. Em razão desses perigos, nosso presidente autorizou a

utilização de qualquer meio para enfrentarmos e aniquilarmos nossos inimigos.

Delvechio coçou a barbicha espessa e levantou o braço, pedindo a vez a uma pergunta.

- Diga, professor. - autorizou Brites.

- Mas... e se formos abordados pelo Fantástico? Vamos dizer...

- Não vão dizer nada. Nosso departamento de relações públicas está emitindo e-mails para

todas as emissoras de TV do Brasil. Declaramos que estamos empreendendo busca e captura de sete

fugitivos. Sete presidiários psicopatas.

Vai criar tumulto, sem dúvida, mas queremos principalmente criar medo, manter as pessoas em

casa o máximo possível. Os sete são perigosíssimos. Vão acreditar, podem apostar.

- Mas vão-nos perguntar por que o Exército está caçando fugitivos da polícia, sendo que esse

não é seu trabalho.

- Professor, não se preocupe com tais detalhes. Tudo já foi organizado para que a imprensa

engula. Não podemos fazê-la acreditar, mas engolir eu garanto que sim. Está sendo divulgado que se

trata de sete ex-militares, treinados e loucos, doidos para uma matança em massa. Já que o pânico é

inevitável, melhor que seja assim. Psicopatas, não vampiros. Temos imagens do rosto de dois deles;

dos outros fizeram um trabalho de reconstituição por computador e serão divulgados por todos os

canais. Talvez isto nos ajude um pouco, talvez...

Brites fez uma pausa. Apanhou um copo d'água da mesa, virando-o lentamente. Olhou para César

e para os demais.

- Toda e qualquer idéia que vocês tenham é favor nos comunicar. Toda informação que possa

contribuir é dever nos informar. Resumindo esta nossa reunião, senhores, trocando tudo por palavras

simples e de domínio popular: a casa caiu pra essas criaturas.

Os seteOnde histórias criam vida. Descubra agora