Até agora nossa preocupação maior era manter esses fatos afastados da população, evitar
alvoroço, pânico. Imaginem a população brasileira recebendo a notícia de que um bando de vampiros
está à solta nas ruas. Mas agora, senhores, a coisa mudou de figura. Tenho ordens de capturá-los ou,
preferencialmente, destruí-los, custe o que custar. Essas ordens vêm de meu general, reforçadas por
nosso presidente da República.
Todos estavam reunidos na sala de mesa oval. Ouviam Brites expor a situação atual da operação
e aguardavam instruções e táticas para proceder diante dos novos acontecimentos. Os vampiros tinham
passado por cima dos militares de novo e, à custa de vidas de soldados, haviam feito livres os corpos
restantes. Tinham, não se sabia como, localizado os cadáveres. Não havia como vazar. A informação
era sigilosa. Depois deste último ataque ficou mais claro do que nunca que lidavam com criaturas
cruéis e dotadas de poderes sobrenaturais. Mantinham encarcerados em uma sala da USPA cerca de
quinze corpos que haviam sido declarados, comprovadamente, mortos e que agora gritavam, choravam
e se arremessavam contra as paredes do cômodo. Quinze mortos-vivos!
- A imprensa nacional nos cobra uma posição oficial quanto ao incidente em Porto Alegre e em
Amarração. Ninguém é cego. Todos perceberam uma movimentação anormal de nossas tropas nesses
últimos dias. - prosseguiu Brites, o tenente do grupo de Operações Especiais. - Todos os militares e
civis estão terminantemente proibidos de prestar declarações à imprensa sob pena de reclusão.
Imaginem vocês a população sabendo que um desses vampiros é capaz de ressuscitar os mortos e que
zumbis desorientados estão zanzando pelas ruas. Em razão desses perigos, nosso presidente autorizou a
utilização de qualquer meio para enfrentarmos e aniquilarmos nossos inimigos.
Delvechio coçou a barbicha espessa e levantou o braço, pedindo a vez a uma pergunta.
- Diga, professor. - autorizou Brites.
- Mas... e se formos abordados pelo Fantástico? Vamos dizer...
- Não vão dizer nada. Nosso departamento de relações públicas está emitindo e-mails para
todas as emissoras de TV do Brasil. Declaramos que estamos empreendendo busca e captura de sete
fugitivos. Sete presidiários psicopatas.
Vai criar tumulto, sem dúvida, mas queremos principalmente criar medo, manter as pessoas em
casa o máximo possível. Os sete são perigosíssimos. Vão acreditar, podem apostar.
- Mas vão-nos perguntar por que o Exército está caçando fugitivos da polícia, sendo que esse
não é seu trabalho.
- Professor, não se preocupe com tais detalhes. Tudo já foi organizado para que a imprensa
engula. Não podemos fazê-la acreditar, mas engolir eu garanto que sim. Está sendo divulgado que se
trata de sete ex-militares, treinados e loucos, doidos para uma matança em massa. Já que o pânico é
inevitável, melhor que seja assim. Psicopatas, não vampiros. Temos imagens do rosto de dois deles;
dos outros fizeram um trabalho de reconstituição por computador e serão divulgados por todos os
canais. Talvez isto nos ajude um pouco, talvez...
Brites fez uma pausa. Apanhou um copo d'água da mesa, virando-o lentamente. Olhou para César
e para os demais.
- Toda e qualquer idéia que vocês tenham é favor nos comunicar. Toda informação que possa
contribuir é dever nos informar. Resumindo esta nossa reunião, senhores, trocando tudo por palavras
simples e de domínio popular: a casa caiu pra essas criaturas.
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Os sete
HorrorDo mesmo autor de "O Senhor da Chuva", Adré Vianco. Lançado de forma independente em 2000, Os Sete, de André Vianco, conquistou uma multidão de fãs e se tornou um best-seller, vendendo mais de 100 mil exemplares. O sucesso foi tão grande que consagr...