Capítulo 17

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Ah, acordou em sua tumba improvisada. O silêncio era total na casa pobre. Apenas um golpe foi

necessário para fazer a barreira lateral de madeira ceder. Manuel arrastou-se para fora da toca

construída naquela madrugada, antes do sol raiar. Inverno continuava adormecido, silencioso, imóvel,

morto. Manuel levantou-se e bateu o pó e a areia que grudaram em sua roupa durante o sono

vampírico. Seus olhos de criatura da noite rodaram pelo quarto. Tudo estava como haviam deixado,

sem sinais de arrombamento, nem sequer de tentativa. Roupas espalhadas pelo chão. Pedaços de

madeira dos móveis destruídos. Em cima da cama, imóvel como um cadáver, jazia o velho Batista.

Manuel aproximou-se e pousou a mão no peito do homem. O coração velho e cansado ainda batia

fracamente, mas batia. Manuel ocupou-se de desatar os nós feitos por seu semelhante. Arrancou a

mordaça, devolvendo-lhe a facilidade para respirar. Ouviu um ronco desesperado, automático, de quem

puxa ar para dentro do corpo com toda a gana.

Guilherme arrastou-se, saindo debaixo da cama. Também bateu o pó da roupa, tentando mantê-la

limpa. Para ele, em sua roupa, bastavam os furos feitos pelos projéteis recebidos dos soldados na noite

anterior, quando fora ao socorro do irmão.

- Ele vive ainda?

- Vive. Este velho é mais forte do que aparenta.

Guilherme saiu do quarto e dirigiu-se à cozinha. Manuel terminou de desatar o velho. Colocou-o

sentado na cama, fazendo-o se mover.

Inverno voltou com um copo cheio d'água e o colocou na mão de Batista.

- Toma, Batista. Isto é água.

O velho tremia como se estivesse adoentado. Seu rosto parecia mais magro, e a boca estava agora

cheia de rachaduras. Apanhou o copo d'água estendido pelo estranho e engoliu-a rapidamente. Sua

mão, feita de pele enrugada e carne magra, porém tipicamente forte como a de um lavrador, tateou a

parede até encontrar o interruptor de luz. A lâmpada acendeu-se, fazendo os dois estranhos protegerem

os olhos mais uma vez. Aqueles rostos pálidos lhe causavam arrepios. Os dois tinham rostos lisos

como o de mulheres, perfeitos como o de bebês, entretanto emanavam medo, como se pertencessem a

psicopatas.

- Diz-me, Batista, do que é feita esta chama? - perguntou o intruso mais alto.

- Isso não é fogo.

- Ora, pois. Mas, se não é fogo, que raios de bruxaria é essa?

- Isso é uma lâmpada. Funciona com eletricidade.

- Eletricidade?

O velho calou-se. Não sabia explicar como funcionava uma lâmpada. Na verdade, em toda sua

vida, nunca havia parado para se perguntar como aquela peça conseguia produzir luz. O que

interessava é que, se acionasse o interruptor, ela acendia. Se não acendia, trocava a lâmpada. Se não

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