Capitulo 01

975 24 1
                                    

Quando eles encontraram aquele navio naufragado, decidiram manter segredo. Outros mergulhadores do vilarejo conheciam o navio, mas o julgavam um amontoado de madeira inútil e podre, sem lhe dar o devido valor. Pensavam que aquela velha caravela não passasse de um reles pesqueiro antigo. Entretanto, Tiago desconfiara do formato daquele amontoado de madeiras. Seu olhar perscrutador, somado a uma intuição inquietante, empurrava-o para um exame mais minucioso. Nos mergulhos seguintes, com a ajuda de seus companheiros, conseguiu chegar à primeira certeza: aquela embarcação não era um pesqueiro naufragado, pelo menos não um deste século. O mistério alegrou o grupo. Se as expectativas se confirmassem, poderiam se deparar com um tesouro perdido, trancado dentro da velha nave.
- Precisamos fotografar aquele barco. - disse Tiago, tirando os óculos de mergulho. - Você conhece o Peta? Aquele do bar.
- Sei.
- Ele tem câmera fotográfica, câmera de vídeo, tudo para reportagens submarinas. Ele trabalha com isso.
- Será que ele cobra caro para nos alugar esse equipamento, César?
- Sei lá. O cara é chato, vai querer vir junto.
- Não, não pode. Se mais gente ficar sabendo... logo vai se armar uma puta correria em cima do barco velho.

César ajudou Tiago a retirar o cilindro das costas, depois foi sua vez de livrar-se do

equipamento de mergulho.

- Não sei como nunca ninguém se interessou em investigar melhor esse navio. Eu acho

que deve ter uma porção de coisas valiosas lá dentro.

Tiago deu partida no motor da lancha. César tinha razão. Por outro lado, aquela parte da

costa era pouco movimentada. Não tinha nenhum atrativo turístico. E eles só mergulhavam

por ali porque era o único lugar que tinham para ir. Raramente sobrava dinheiro para longas

excursões. O máximo que podiam fazer era ficar ciscando as pedras de suas próprias praias.

Desde cedo Tiago e César se engraçaram com a prática do mergulho. César nascera ali, em

Amarração. Já Tiago chegara à cidade com 12 anos. Seu pai fora destacado para Amarração e

teve de trazer toda a família. A mãe, que sempre morara na capital, Porto Alegre, achou a idéia

bastante agradável. Já os filhos, nem tanto. Os três estavam começando a curtir a adolescência,

e Porto Alegre parecia bem mais interessante do que a pacata cidade litorânea. Fazer o quê!

Logo os três se adaptaram. Tiago era o mais novo. Apesar de Tadeu ser seu irmão gêmeo,

Tiago fora o último a nascer. Sabrina era três anos mais velha. Havia dois anos a irmã estava

casada e fazia cinco morava em outro Estado. De vez em quando se falavam por telefone, mas

raramente se visitavam. Da família restavam apenas eles dois. O pai fora o delegado titular de

Amarração até morrer por complicações coronárias quando Tiago tinha 16 anos. O irmão

gêmeo morreu dois anos depois, afogado naquela praia. A partir daí a família desmantelou-se.

A mãe morreu de desgosto, definhando mês a mês. Desde a morte de Tadeu, a felicidade

sumira-lhe do rosto. Nunca mais voltara a ser a mesma. Tiago também se abalara na ocasião

da morte do irmão, mas vendo o estado de sua mãe ficara bastante assustado. Lutava contra a

saudade e o desespero, tentando manter a família ainda viva. A irmã fora para São Paulo quando

ele tinha 20 anos, ficando sozinho em Amarração. Os tios pagaram a faculdade de Sabrina,

Os seteOnde histórias criam vida. Descubra agora