O som era ensurdecedor àquela distância. César procurava proteger os ouvidos, mas estava
difícil. Um soldado aproximou-se.
- Já voou num destes antes?
César lançou um olhar rápido para o helicóptero e balançou a cabeça em sinal negativo.
- Venha arqueado. Não quer perder a cabeça, não é? - brincou o militar. Ele riu e seguiu o
rapaz. Manteve-se encurvado até alcançar o helicóptero.
Enquanto passava por baixo da hélice, teve de concordar com o jovem soldado: se levantasse a
cabeça mais um centímetro, a veria arrancada de seu pescoço. Esforçou-se para subir a bordo. Trazia
uma mochila pesada, onde acomodara as armas. Precisou de bastante lábia para convencer o sargento
Brites a deixá-lo seguir armado para Porto Alegre e juntar-se, com permissão especial, aos grupos de
busca ao Lobo. Mal acomodou-se, sentiu um tranco lateral, como se alguma coisa sobrenatural
empurrasse a aeronave; depois veio um empuxo, levando o helicóptero para cima.
- Tome. Isto aqui vai te ajudar. - gritou o soldado, estendendo um headphone para tapar os
ouvidos.
César agradeceu, precisando gritar também.
O helicóptero subiu rápido, e, através da janela do seu lado esquerdo, podia observar as luzes da
cidade distanciando-se. Haviam decolado da escola transformada em base militar e parecia já ter
ultrapassado os limites da pequenina Amarração, que mais se assemelhava a um povoado do que a uma
cidade.
Além do soldado que o recebera, havia mais dois no banco de trás, cada um com seu fuzil, e mais
o piloto à frente. Estavam quietos; somente o barulho infernal do motor preenchia o local. Logo notou
que o que havia coberto os seus ouvidos não eram simples tapa-ouvidos, mas também um rádio. Podia
ouvir mensagens vindas da central de operações em Amarração para os soldados e também algumas
conversas entre o piloto e a torre de controle de Porto Alegre.
César alisou a bolsa de lona e depois a abriu. Retirou a espingarda e deixou a mão percorrer sobre
o metal negro e frio. Pegou uma das balas e examinou a ponta de prata. Se a fera cruzasse à sua frente,
iria experimentar aquela munição. César fechou os olhos, encostou a cabeça no cano frio da espingarda
e orou. Orou para que aquela idéia maluca e folclórica desse certo, pois aquelas balas de prata eram
tudo o que tinha.
Levou a mão novamente para dentro da mochila e apanhou uma porção de balas menores. Balas
de calibre trinta e oito. Neco, além da encomenda de cartuchos de calibre doze, confeccionara dezoito
balas de trinta e oito. César encheu a mão com as baias menores, e, como se lesse seu pensamento, o
soldado que o ajudara a embarcar puxou conversa.
- Como você vai carregar tudo isso aí? Vai ser nessa sacola?
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Os sete
HorrorDo mesmo autor de "O Senhor da Chuva", Adré Vianco. Lançado de forma independente em 2000, Os Sete, de André Vianco, conquistou uma multidão de fãs e se tornou um best-seller, vendendo mais de 100 mil exemplares. O sucesso foi tão grande que consagr...