Capítulo 32

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O som era ensurdecedor àquela distância. César procurava proteger os ouvidos, mas estava

difícil. Um soldado aproximou-se.

- Já voou num destes antes?

César lançou um olhar rápido para o helicóptero e balançou a cabeça em sinal negativo.

- Venha arqueado. Não quer perder a cabeça, não é? - brincou o militar. Ele riu e seguiu o

rapaz. Manteve-se encurvado até alcançar o helicóptero.

Enquanto passava por baixo da hélice, teve de concordar com o jovem soldado: se levantasse a

cabeça mais um centímetro, a veria arrancada de seu pescoço. Esforçou-se para subir a bordo. Trazia

uma mochila pesada, onde acomodara as armas. Precisou de bastante lábia para convencer o sargento

Brites a deixá-lo seguir armado para Porto Alegre e juntar-se, com permissão especial, aos grupos de

busca ao Lobo. Mal acomodou-se, sentiu um tranco lateral, como se alguma coisa sobrenatural

empurrasse a aeronave; depois veio um empuxo, levando o helicóptero para cima.

- Tome. Isto aqui vai te ajudar. - gritou o soldado, estendendo um headphone para tapar os

ouvidos.

César agradeceu, precisando gritar também.

O helicóptero subiu rápido, e, através da janela do seu lado esquerdo, podia observar as luzes da

cidade distanciando-se. Haviam decolado da escola transformada em base militar e parecia já ter

ultrapassado os limites da pequenina Amarração, que mais se assemelhava a um povoado do que a uma

cidade.

Além do soldado que o recebera, havia mais dois no banco de trás, cada um com seu fuzil, e mais

o piloto à frente. Estavam quietos; somente o barulho infernal do motor preenchia o local. Logo notou

que o que havia coberto os seus ouvidos não eram simples tapa-ouvidos, mas também um rádio. Podia

ouvir mensagens vindas da central de operações em Amarração para os soldados e também algumas

conversas entre o piloto e a torre de controle de Porto Alegre.

César alisou a bolsa de lona e depois a abriu. Retirou a espingarda e deixou a mão percorrer sobre

o metal negro e frio. Pegou uma das balas e examinou a ponta de prata. Se a fera cruzasse à sua frente,

iria experimentar aquela munição. César fechou os olhos, encostou a cabeça no cano frio da espingarda

e orou. Orou para que aquela idéia maluca e folclórica desse certo, pois aquelas balas de prata eram

tudo o que tinha.

Levou a mão novamente para dentro da mochila e apanhou uma porção de balas menores. Balas

de calibre trinta e oito. Neco, além da encomenda de cartuchos de calibre doze, confeccionara dezoito

balas de trinta e oito. César encheu a mão com as baias menores, e, como se lesse seu pensamento, o

soldado que o ajudara a embarcar puxou conversa.

- Como você vai carregar tudo isso aí? Vai ser nessa sacola?

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