Capítulo 35

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Os dois aproximaram-se da casa a passos lentos. O caminhão do Exército os havia deixado na

estrada a poucos metros dali. Chegaram até a varanda e entraram sem fazer muito barulho. O dono da

casa não estava dormindo; mesmo assim, não faziam barulho. Como de costume, como um código,

quando chegavam gritavam pelo dono da casa, Tiago. Não gritaram desta vez. Sabiam que o dono da

casa não se importaria. Não se incomodaria com a invasão. O dono daquela casa estava morto. Fora

assassinado por um míssil nuclear quase uma hora atrás.

César não conseguia acreditar até agora em tudo aquilo que acontecera nos últimos dias. Parecia

estar vivendo uma história inventada por uma mente perversa. Tiago e Eliana estavam mortos. Queria

que fosse mentira.

Olavo parou bem no meio da sala, junto ao amigo. Não sabia se sentava ou se ficava de pé. Sua

cabeça estava preocupada com coisas mais importantes do que onde seu traseiro ficaria mais

confortável.

De repente, a porta do quarto se abriu.

Havia alguém ali, alguém que acabara de dar um passo para dentro da sala escura.

César e Olavo assustaram-se. Não deveria haver ninguém na casa. Imaginavam-se sozinhos, mas

a porta ficara destrancada este tempo todo...

César estava mais próximo do interruptor e foi quem acendeu a luz da sala. Um calafrio

percorreu seu corpo de fora a fora. Não conseguiu emitir uma palavra sequer, tamanho o espanto. Seus

olhos encontraram-se com os olhos de um fantasma. Era como se sua mente lhe pregasse uma peça.

Olavo foi quem balbuciou alguma coisa inteligível.

- Sa... santa mãe de Deus... Titi?

O homem ali parado, de pé, confirmou com a cabeça.

- Não pode ser! - emendou César.

Um vulto surgiu de trás daquele homem... o vulto de uma mulher.

- Eliana! - espantou-se novamente Olavo.

Passado mais um segundo, o espanto não chegou a se dissipar, mas misturava-se a uma alegria

intensa. Os recém-chegados levaram as mãos à cabeça enquanto observavam os dois amigos ali,

intactos.

Os quatro se abraçaram. Os quatro de Amarração. O vínculo entre aqueles amigos era forte como

o vínculo natural dos verdadeiros amigos.

- Mas como? - queriam saber. Tiago respirou fundo.

- Ê melhor sentar. Essa história vai ser longa.

Em uma versão abreviada, contou aos dois o plano entre ele e o Exército nas docas de Amarração

até o incrível desfecho providenciado por Gentil.

- Bá, mas que história mais incrível!

- E, Cesão, se eu contasse para qualquer outra pessoa, iriam me internar num hospital para

doentes da cuca. Ao menos tenho vocês, que viram uma porção de coisas esquisitas, para desabafar

esse negócio.

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