Capítulo 05

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Olavo estava curioso quanto ao desenrolar do descobrimento, mas seu trabalho não poderia ser

posto de lado, ao menos até botarem de fato as mãos no dinheiro. Ainda mais agora com seu colega de

trabalho doente. Joel havia pegado um resfriado, estava afastado. Como motorista, era o único habilitado

para substituí-lo.

Olavo trabalhava para o Instituto Médico Legal - IML baseado em Amarração. Era a única

central do IML na região; portanto, constantemente era obrigado a empreender pequenas viagens como

aquela aos municípios vizinhos. Depois de liberados pela perícia, ele se encarregava de efetuar a

remoção dos cadáveres.

Por conta dessas pequenas aventuras, conhecia muitas histórias cabeludas. Coisa de arrepiar até o

mais durão detento da carceragem de Amarração.

Estava indo agora, com o ajudante Tobias, para uma das cidades vizinhas, Portinho. A ocorrência

descrevia uma vítima de acidente de trânsito. Uma garotinha de nove anos infelizmente tinha sido

atropelada por um grande caminhão. Disseram que o motorista quase fora linchado por populares. Para

sorte do homem havia algumas testemunhas que viram exatamente o que aconteceu. O caminhoneiro

não teve culpa alguma. Trafegava em baixa velocidade. A garota, passeando com sua bicicletinha,

batera em uma da guias do calçamento acidentado, perdendo completamente o equilíbrio. Para azar

dela e do motorista, sua cabeça fora esmagada pelo pneu traseiro do caminhão após a queda imprevista.

O homem nada pôde fazer. Um acidente.

Olavo e Tobias levaram vinte minutos até chegar a Portinho. Pelo rádio, ouviam a rotina policial.

A viatura que utilizavam para essas ocorrências, uma caminhonete, era dotada de um compartimento

refrigerado na parte traseira.

Procuravam a rua indicada no registro de ocorrência.

- Que diabo de tempo doido, tchê!

- Que foi?

- Aqui no jornal tá marcado que era para se esperar um solzão rachando para hoje. Verão, trinta

e cinco graus para o litoral norte. Isso de máxima. Trinta e cinco também para a Lagoa dos Patos. Tudo

nessa faixa. Mas tá um frio dos diachos. Quanto deve estar fazendo?

- Sei lá, Tobias. Sei que estou com essa blusa fininha, mas estou com frio. Deve tá em menos de

doze grais.

- Graus.

- O quê?

- É graus o certo. Faz graus, não grais.

- É. Tá frio do mesmo jeito, com i, com u. E em pleno verão.

- Deve ter alguma coisa a ver com o tal do El Nino.

- O menino.

- Esse mesmo.

Encostaram a barca junto a uma pequena aglomeração, esquecendo-se da conversa.

O grupo de pessoas abriu passagem, revelando o corpo da menina, de frente para a viatura.

Uma poça grande de sangue acumulava-se na sarjeta, espalhando-se por dois caminhos. O

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