Capítulo 30

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A lua estava alta. A equipe de Brites não conseguira obter sucesso em sua caçada aos vampiros.

Agora os quatro, Baptista, Fernando, Manuel e Guilherme, mais a humana, caminhavam para fora da

toca. Um vento gelado cortava a noite, e o céu ostentava poucas nuvens e uma calmaria cativante.

Entretanto, poucas horas atrás, quando os vampiros estiveram prestes a serem descobertos pelos

militares, aquele mesmo céu fora palco de funesta selvageria.

Baptista fora o da guarda. O esconderijo estivera por um triz, mas o poder sobrenatural do

vampiro providenciara uma debandada geral dos soldados e causara tremendo caos por toda a cidade

de Osasco. O vampiro evocara uma tempestade espetacular, sem precedentes na região. Os soldados,

engajados na procura do esconderijo dos vampiros, se viram obrigados a prestar assistência aos

cidadãos em centenas de acidentes desencadeados pela tenebrosa tempestade que castigara o

município. O prefeito declarou estado de calamidade pública. Na noite anterior, a neve cobrira as ruas

de Osasco de ponta a ponta, chegando até mesmo a Carapicuíba. Nesse dia, fora a chuva a precursora

de devastação nunca antes experimentada.

Eliana estava mais uma vez inconsciente. Baptista servira-se de seu sangue para recuperar as

forças. Muito provavelmente precisariam de seu poder uma vez mais antes de alcançar a preciosa

caravela.

Guilherme ia à frente, tendo Manuel bem próximo. Estiveram escondidos num compartimento

abandonado embaixo de uma imensa ponte metálica. Estranharam o fato da ponte estar ali sem haver

rio algum para cruzar. Subiram a larga avenida. Decidiram andar separados por alguns metros. Era

muito melhor caminharem solitários, chamando o mínimo de atenção. Subiram a larga avenida em

busca de um transporte adequado que os tirasse dali com urgência. Luzes sustentadas no topo de longas

hastes de pedra banhavam o chão negro e reflexivo, pois ainda havia muita água da chuva. Eram lindas

as luzes! Pensou o vampiro.

Manuel interrompeu a caminhada. Também estava encantado com as luzes. Seus olhos

vampíricos estavam fixos em um grupo de veículos com luzes pulsantes presas no topo que giravam

dentro de uma espécie de caixa de vidro, chamando a atenção de quem passava. Ora eram vermelho

intenso, ora eram azuis. Os veículos, também vermelhos, estacionavam junto a um veículo muito

maior, que trazia a palavra Himalaia em sua lateral. Quase ao mesmo tempo, o cheiro forte e

perturbador do sangue chegou-lhe às narinas. Havia um homem morto ali; isso ele sabia. Bastaria um

grito alto para trazê-lo de volta à vida. Queria fazê-lo, mas a razão obrigava-o a permanecer mudo.

Percebeu o que acontecera. Um gigantesco poste metálico havia desprendido do chão e despencado do

céu, atingindo a parte traseira do veículo. O homem fora esmagado pelas partes de ferro daquela

carruagem agigantada. Nem mesmo Dom Manuel possuíra tão grande carro. Continuou caminhando.

Encontraram daqueles postes publicitários caídos por quase toda a extensão da avenida. A

tempestade tinha sido furiosa. Humanos pranteavam suas perdas, suas vidas. Depois de alguns minutos,

chegaram até um grande pátio, onde dezenas daquelas seres enormes se ajuntavam. Ali, onde centenas

de humanos aglomerados aguardavam pelas carruagens dotadas de motor, reuniram-se novamente.

Diversas vezes algumas pessoas aproximaram-se de Fernando perguntando pela mulher

desmaiada e oferecendo ajuda. Ele as afastava como podia, mas percebeu que a curiosidade sobre a

mulher inconsciente crescia a cada instante. Comunicou-se com Baptista, que tratou de apressar os

irmãos a conduzirem-se para dentro de um dos grandes veículos. Por conveniência, escolheram o mais

vazio, pois os curiosos não eram bem-vindos naquela noite.

O ônibus zarpou, deixando a cidade.

Não foi difícil para os vampiros alcançar seu objetivo. Acordador ainda mantinha consigo a

preciosa pistola com a qual executara o infeliz protetor da nova mãe. Não demorou um instante para

convencer o condutor a desviar-se do caminho.

Queriam o aeroporto. Queriam o avião. Queriam a caravela.

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