O paraíso dos patos

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Havia um padre muito vigarista que vivia pedindo dinheiro para ajudar os pobres. Na verdade embolsava tudo, para ter boa vida.
Ao tomar conhecimento disso, Pedro Malasartes resolveu dar-lhe uma lição. Arrancou a roupa, passou bastante óleo no corpo, rolou num monte de penas tiradas de um colchão e subiu ao campanário da igreja.
À noite, pôs-se a tocar o sino. O padre acordou assustado, pegou uma vela e foi ver o que se passava. No fim da grande escada, viu aquele homem coberto de penas brancas e indagou:
— Quem é você?
— Sou o anjo Gabriel — respondeu o Pedro Malasartes.
— O que você quer comigo? — com as pernas trêmulas de medo, o padre quis saber.
— Chegou sua hora, padre. Vim para levá-lo ao paraíso.  Mas antes, preciso de todo o dinheiro que o senhor tem guardado.
O padre foi até seu quarto, levantou o colchão e pegou um monte de dinheiro ali escondido.
— O que o senhor está fazendo? — perguntou-lhe uma freira.
— Ah, irmã! Chegou minha hora. O anjo Gabriel veio me buscar para me levar ao paraíso. Mas antes ele quer toda minha fortuna.
— Ai! E o que será de mim? — lamentou a freira.
— Não se preocupe, irmã! Atrás do altar, tenho outro monte escondido. Pode pegá-lo, para terminar os seus dias.
Depois disso, o padre voltou ao campanário levando o dinheiro:
— Aqui está toda minha fortuna.
— Só isto, padre?
— É tudo o que possuo.
— E o que está escondido atrás do altar? — O Pedro Malasartes havia escutado a conversa dele com a freira.
O Padre não teve outra saída. Entregou-lhe todo o dinheiro. Então o Pedro Malasartes pegou um saco, enfiou o padre dentro dele, amarrou-lhe a boca e saiu arrastando-o escada abaixo.
A cada degrau descido o padre gemia, porque batia a cabeça, a perna, o braço e as costas.
— Não se lamente, padre! O senhor mesmo sempre disse que o caminho do paraíso era duro! — lembrava-lhe o Pedro.
Quando chegou ao terreiro da igreja, Pedro Malasartes atirou o padre, dentro do saco, no lamaçal onde viviam os patos.
Ao amanhecer, a freira viu os patos bicando o saco e foi ver o que sucedia. Ouvindo o gemido do padre a cada bicada dos patos, a freira perguntou:
— Quem está aí dentro?
— Sou eu, irmã, sofrendo no paraíso.
— Só se for no paraíso dos patos, padre. — E abriu o saco, de onde o vigarista saiu todo machucado e envergonhado.
Nessa altura dos acontecimentos, o Pedro Malasartes havia distribuído todo o dinheiro aos pobres da cidade e já ia longe, feliz da vida, por ter feito justiça a favor dos injustiçados.

Aventuras de Pedro MalasartesOnde histórias criam vida. Descubra agora