Passeio no céu

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— Puxa, bisa! Por que a senhora não casou com ele?
— Deixe de ser interesseiro, menino! Quando ele ficou rico, já estava casada com seu bisavô.
— Se o bisavô não tivesse aparecido naquele baile, quem sabe a senhora ainda podia ter casado com o Pedro, né, bisa?
— Pois é! — concordou, suspirando. — Cada um tem sua sorte. Tive a minha ao lado do seu bisavô. Ele nunca foi rico, mas foi muito bom pra mim.
— Mas se a senhora tivesse casado com o Pedro...
— Pode parar com essa história, porque também não ia adiantar muito!
— Por quê, bisa?
E ela se empolgava em dizer que, tão logo o Malasartes ficou rico, inventou que estava cansado de vagar pelos quatro-cantos do mundo e quis ir passear no céu.
— De avião, bisa?
— Não! Avião nem existia ainda.
— E foi como?
— Não sei bem. Mas levou muitos dias para chegar lá. Bateu na porta e ficou esperando até São Pedro atender. De repente, ouviu o santo, arrastanso seus chinelos pelo imenso corredor do paraíso, tilintando seu chaveiro e perguntando:
— Quem é?
— Sou eu, meu padrinho protetor.
— Eu quem?
— Pedro Malasartes, seu devoto.
— Aqui não é seu lugar, bicho malandro!
— Não se sangue comigo, meu São Pedro! Só vim dar um passeiozinho.
— Passeio? — São Pedro admirou-se.
— Pois é! Estou meio cansado de andar pelo mundo e agora resolvi dar um passeio aqui no céu.
— Vá embora daqui! No céu não entra gente viva. E você, nem depois de morto.
— Que é isso, São Pedro? Só quero dar uma olhadinha boba. O senhor não vai me dar com a.porta na cara, vai?
— Você só entra aqui se voltar para a terra e melhorar muito o seu procedimento.
— Se meu padrinho está me mandando, eu obedeço. Mas vou com uma condição.
— Que condição?
— Antes de voltar para a terra, quero dar um pulinho no inferno para ver se lá é ruim mesmo.
— Quem vai pro inferno nunca mais volta, meu filho — advertiu-o São Pedro com grande bondade.
— Deixe comigo, meu padrinho.
— Estou avisando, Malasartes.
— Começarei minha obra pelas profundezas do inferno, meu santo. Quero libertar um monte de almas que pensam por lá. 
—Você é quem sabe. Só não diga depois que não o avisei.
— Está certo, meu santo! Vou indo agora para não incomodar mais o senhor.
E foi.

Aventuras de Pedro MalasartesOnde histórias criam vida. Descubra agora