Aventuras de Pedro Malasartes

As três enxadas

Um dia, Pedro Malabares arrumou emprego na propriedade de um fazendeiro tão rico, que podia dar-se ao luxo de queimar dinheiro. Mas essa extravagância ele não fazia, porque não era besta. Muito avarento, só pensava em acumular cada vez mais riquezas, mesmo que, para tanto, precisasse matar seus empregados de fome e trabalho árduo. 
Pedro sabia disso, mas foi trabalhar na fazenda por estar apaixonado pelas três filhas do fazendeiro. Moças bonitas. Verdadeiras princesas. Uma mais linda do que a outra. Todas três solteiras, sem nunca terem namorado, pois o pai só permitiria que casassem com rapazes mais ricos do que ele.
Mesmo assim, o Pedro, que nem podia sonhar com uma, queria namorar as três.
Levava esse propósito consigo noite e dia. Sem êxito, buscava um plano que lhe possibilitasse, ao menos, beijar as moças. Enquanto isso, o tempo passava. Cada dia o Malasartes ficava mais magro por trabalhar muito e comer tão pouco.
Quando estava para desistir de seu intento, a oportunidade surgiu. Numa manhã, o fazendeiro, um peão e o Pedro foram fazer o plantio de umas mudas de árvore frutífera. Ao chegarem ao local escolhido, perceberam terem-se esquecido de levar as ferramentas. Então, o patrão mandou o Malasartes buscar três enxadas, e ele foi.
Ao adentrar a casa do fazendeiro, em vez da verdade, disse ter sido mandado pelo pai delas para beijar bastante as três.
As moças não acreditaram. Acharam que era mentira. Um absurdo. Coisa de louco. Onde já se viu uma coisa daquelas? Pedro não se preocupou com a reação das moças. Pediu-lhes que o acompanhassem até a varanda da casa, de onde gritou:
— Patrão! Ô patrão!
— Que é? — berrou o patrão irritado.
— Não são as três?
— Claro que são, seu imbecil — respondeu o patrão, pensando tratar-se das enxadas.
Diante disso, as moças, sempre obedientes às ordens do pai, cobriram o Pedro de beijos.
— E depois disso, bisa? — lembro-me de ter perguntado.
— O Pedro pôs os pés na estrada antes que descobrissem sua astúcia!