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Suraya








Fazem precisamente cinco dias que estou aqui, em Angola, Luanda. Não vejo Taylor pessoalmente desde então, só temos nos comunicado através das redes sociais para podermos nos ver e algumas ligações, três vezes ao dia. Não sei como eu não estou feliz de estar aqui, é meu país, sempre desejei voltar para cá, mas vindo nestas circunstâncias, não consigo estar feliz aqui.

Estamos numa casa, ou seja, num casarão que sempre admirei quando ainda morava aqui. Dentro de uma co-propriedade, onde só pessoas poderosas poderiam morar.

É estranho para mim que nem me possibilitava sonhar com isso, porque jamais teria possibilidade de estar aqui, mas olha só, estou morando temporariamente aqui, com os meus três filhos, e vizinha dos pais do meu amigo.

— Mamãe! — olho para o meu filho. — Quando o papai vai ligar?

— Em breve meu amor. — respondo na tentativa de convencer ele. Nem eu mesma acredito.

Taylor nunca diz as horas que vai ligar, quando for alguma hora da manhã, ele liga, e vai seguindo. Ele não me conta nada, não diz nem se está na mansão ou não, única resposta que recebo é que " Está tudo bem, não te preocupes".  Fico frustrada com essas respostas, mas também morro de preocupação se ele está mesmo bem, onde quer que esteja. 

— Quando papai ligar chama por mim? — olho para meu filho que tem os brilhos nos olhos com a saudades do pai. É lindo isso.

— Sempre meu amor! — respondo.

— Vou lá a cima com as manas. — ele diz pulando e correndo as escadas indo até as irmãs.

Taylor planejou tudo isso. A casa é muito aconchegante, tem um teclado no quarto de Lion para ele se acomodar, as meninas têm o quarto de princesas e tudo parece muito elegante. Como quando imaginei, quando ainda morava em um bairro pobre de Luanda.

Subo até ao terraço e olho para os grandes prédios da cidade. Os carros seguindo para se destinos, me faz lembrar de quando passa por esse mesmo bairro, de ônibus, que aqui chamamos de autocarro, a enchente de passageiros, o calor, e como era humilhada por chegar assim na universidade. 

Era pobre, meus pais não eram pessoas importantes, mas meus antigos colegas tinham tudo isso, pais importantes, carros e muito dinheiro que demonstravam. Hoje devem ser pessoas muito importantes também.

Desde que chegamos aqui, não saímos de casa, não deixo e nem vou deixar, até ter Taylor connosco aqui. Tenho medo de algo acontecer comigo e com meus filhos. Tem um inimigo aqui, que matou minha família, e sabem que eu estou viva e podem estar atrás de mim e não vou arriscar de sair mesmo com esses soldados aqui.

Suspiro tentando relaxar, queria tanto mostrar a cidade para os meninos, mas esse medo em mim me impede. Taylor garantiu que estamos protegidos, mas não confio tanto nisso, algo em mim não aceita.

Volto para dentro quando vejo que vai chover. Aqui em Angola os primeiros quatro meses são chuvosos e de muito calor também. Basta entrar que a chuva logo começou.

Vou até ao quarto de Lion e não está lá, decido ir até ao quarto das meninas e encontro os três lá, frente ao computador, os três atentos nele. Desconfie e caminhei mais próximo.

— Quando vai voltar? — Lia pergunta e percebo que conversam com o pai, mas quem?... Como eles...

— Em breve princesa! — ele responde, mas não me aproximo muito para que ele não me veja. — Onde está a mamãe?

— Aqui! — me mostro para a câmara e ele esbanja um sorriso quando me vê. — Oi Leão! — falo e ele gargalha.

— Oi Leoa! — Ele gosta do apelido e decidiu chamar do mesmo jeito? Que marido hein. — Saudades! 

Recomeço - No Meio Da Máfia Onde histórias criam vida. Descubra agora