Dezenove

1.4K 95 0
                                    

Alguns dias se passaram desde o dia que fiquei com Emily. Eu tenho evitado todo tipo de contato físico e presenciar o jeito que ela fica em relação a isso é doloroso. Me reinstalo na minha sala, ainda havia algumas coisas para ajeitar mas decidi deixar dentro das poucas caixas, havia trabalhos para colocar em dia. Durante a manhã me vi atolado de papéis para ler, pesquisas para fazer, eu já estava doido.

- Achei que primeiro iria organizar suas coisas e depois iria olhar o trabalho. - diz Emily entrando na sala.
- Eu até pensei em fazer isso, mas achei melhor priorizar o trabalho. - digo olhando fixamente para o notebook. Quando resolvo levantar o olhar, Emily estava organizando as coisas que estavam nas caixas, colocando cada coisa de volta a prateleira.
- Acho que ainda não te agradeci por ter resolvido alguns dos meus problemas - diz Emily quebrando o silêncio.
- Não precisa agradecer! Sei que faria o mesmo se estivesse no meu lugar.
- Só você enxerga algo bom em mim. De resto, todos só vêem uma doida, tarada talvez, arrogante.
- Talvez você seja tudo isso mesmo, mas nada disso diminui o bem que existe em você. Talvez você só dê a eles aquilo que eles dão a você. - ela me olha como se tivesse tanta coisa para dizer, mas apenas se cala e da os ombros, e volta a ficar sua atenção no que estava fazendo. Eu dou uma pausa no trabalho e vou ajudar ela com a caixa que ainda restava, ela cheirava a álcool e não me parecia bem. - achei que iria dar um tempo de bebidas.
- Eu bebi só um pouco.
- Um pouco? Sei! Sinto daqui o cheiro do álcool, não preciso nem chegar tão perto de você. - ela me olha e simplesmente tenta me ignorar.
- Acho que você consegue terminar sozinho. Vou voltar para minha sala e ver o que tenho para fazer. - ela sai sem olhar para trás, eu sinto um aperto no peito ao vê-la sair, mas decido que não posso e não quero viver de babá dela. Termino de arrumar aquelas coisas e volto para minhas pesquisas. No final do expediente, passo em frente a sala de Emily e a vejo olhando pela janela com um copo em uma de suas mãos. Me parte o coração presenciar tamanha destruição, mas talvez eu não seja a pessoa mais adequada para tal ajuda. Vou até o banheiro e novamente sinto um aperto no peito, jogo uma água no rosto e respiro fundo, eu fiquei ali por cinco minutos repetindo para mim mesmo que não era nada, mas não adiantou muito. Saio do banheiro e sigo em direção a sala de Emily, ao me aproximar escuto uma movimentação não muito normal. Abro a porta e vejo David agarrando Emily - outra vez - dessa vez ela estava sobre a mesa fazendo força para que ele a soltasse.

- Mulherzinha como você merece isso mesmo - ele levanta a mão para bater nela e eu com um reflexo que nem imaginava ter, seguro sua mão.
- O que pensa que está fazendo? - pergunto puxando-o para perto da porta.
- Estou dando um trato nessa aí, já que você não faz, eu faço! - ele diz com um sorriso maldoso no rosto. Emily simplesmente se encolheu no canto da sala e chorou compulsivamente, enquanto ele a olhava com aquele maldito sorriso. Vendo toda a situação, não penso duas vezes, vou para cima de David e caímos em uma briga bem no corredor em frente a sala de Emily. A mesma fica bem assustada, e tenta me conter juntamente com algumas pessoas que ainda estavam por ali, mas a tentativa foi inútil, eu guardei muito sentimento ruim em relação a David, e tudo que eu queria era descontar tudo ali mesmo. Mas minutos depois os seguranças chegaram e me tiraram de cima de David. Havia sangue em minhas mãos, em minhas roupas. Eu quase não me reconheci quando me olhei no espelho que havia em minha sala, pois me levaram para lá na tentativa de me manter longe do então sangrento David.
Depois de um longo tempo, levaram ele para algum hospital e assim me deixaram sair de minha sala. Fui atrás de Emily mas não a encontrei em canto algum, nem no celular consegui contacta-la. Eu sentia que isso não era nada bom.

Jogando com Minha ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora