Capítulo 1

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OLHO PARA O CÉU PINTADO em vários tons de azul. A previsão do tempo acertou desta vez quando disse que a manhã seria ensolarada, e eu não poderia ter escolhido dia melhor para voltar a Lago da Lua depois de meses sem pisar naquele lugar.

Incrivelmente, a estrada está menos movimentada do que de costume para um feriado prolongado de Páscoa, sinal de que logo estarei na vila que carrega consigo toda a minha história, desde a infância até que terminei o colegial e decidi ir para a faculdade. Foi uma época maravilhosa que me deu base para tudo o que sou hoje, no alto dos meus trinta e seis anos. Quem eu sou? Rocco Menezes, engenheiro civil e diretor executivo da INVENTE Arquitetura e Urbanismo, a maior construtora de toda a região, com muito orgulho.

Uma luz piscando no painel do meu carro chama a minha atenção. O rosto sorridente de minha namorada aparece no visor do celular e não consigo evitar sorrir de volta, mesmo que ela não possa me ver do outro lado da linha.

Ativo o viva-voz, ciente de que eu não deveria atender a ligação por estar dirigindo. É um saco que eu seja incapaz de resistir a um sorriso bonito. Mesmo que ele seja tão familiar.

– Eduarda?

Ela demora alguns segundos para responder, risos partindo do outro lado que soam como se estivesse se despedindo de alguém.

– Desculpe, Rocco. Eu estava falando com Jaque antes de ela ir embora.

– E você? Também já está saindo do plantão?

– Que nada! O hospital me pediu para estender algumas horas a mais e acabei concordando. Sabe o quanto eu gosto disso aqui, não é?

– Sei bem. Gosta tanto que se recusou a vir comigo. Que tipo de garota deixa seu namorado passar uma semana longe dele em plena Páscoa? – minha voz sai em tom de brincadeira porque eu sei o quanto o trabalho dela é importante e o quanto ela o ama.

– O tipo de garota que escolheu uma profissão cheia de responsabilidades. Se um dia você pretende ser esposo de uma médica, precisa se acostumar, mocinho.

Eduarda é cirurgiã pediatra do Instituto Vital, um hospital particular renomado na região. Ele fica em General Antunes, a capital onde moramos. Quer dizer, moramos, mas não juntos porque combinamos de cada um manter sua individualidade antes de nos casarmos, assunto que ainda não chegamos a discutir, embora o pai dela venha pressionando por uma data, apesar de nenhum de nós dois demonstrar ter pressa.

Detalhe: meu futuro sogro, o português Pedro Gusmão, é presidente e dono da empresa onde trabalho. Como Eduarda é filha única, ele vive com essa história de que ela precisa se casar, lhe dar netos e ter certeza de que tem alguém na família em quem possa confiar para se aposentar. Nesse caso o "alguém" seria eu porque minha namorada não quer saber de nada além de bisturis e agulhas.

– Eu sei... Eu sei. Vou sentir muito a sua falta.

– Também vou, querido. Manda um beijo para seus pais e para Giovana, ok?

– Farei isso. Te ligo mais tarde.

Você deve estar estranhando a falta de um "eu te amo" ao final da conversa e todo aquele ritual romântico que povoa as mentes mais férteis. Acontece que nossa relação é estabelecida no companheirismo e atração mútua sem precisar de promessas e declarações que possam soar falsas e sejam incapazes de serem cumpridas. Combinamos que teríamos um relacionamento aberto até que nossos nomes estejam selados em um pedaço de papel. Sim, você entendeu bem: um relacionamento a-ber-to. Embora, nesses cinco anos de namoro, nunca tenha ouvido falar dela com outro homem e eu sempre fui muito discreto quando estive com outras mulheres.

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