Capítulo 7

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***

EU SEMPRE ME GABEI por ter um autocontrole invejável, pela minha habilidade de lidar com situações problemáticas sem desespero e por ter os pés tão presos ao chão, que poucas coisas eram capazes de me tirar do sério.

Até hoje.

Não sei exatamente o que está diferente em mim quando diz respeito a essa garota, mas posso afirmar que não gosto do que estou sentindo nem do fato que isso está me tirando da zona de conforto na qual sempre preferi estar, que estou perdendo completamente minha mente no percurso.

Antes que eu caia em si, me pego com as mãos cravadas no braço de Júlia, puxando-a para longe dali como um maldito homem das cavernas levando sua mulher pelos cabelos. É exatamente como me sinto, um instinto de posse me dominando, tirando meu raciocínio, esvaindo todo o controle, que eu me orgulhava de ter.

– Rocco, eu não estou entendendo... – o tom de voz dela passa de confuso a irritado. – Me solte agora!

Minha mão não me obedece. Ela simplesmente não me obedece.

Eu só consigo aliviar meu aperto quando estamos em um canto escuro, onde somente ela e eu podemos ser vistos, ainda assim, prendo-a entre meus dois braços contra a parede. Neste momento, estou pouco me importando se alguém vai me rotular como uma espécie de maluco ou psicopata, quando tudo que sei é que estou sendo tomado por um instinto primitivo mais forte do que eu desde que a vi se exibindo para todos de forma tão sensual.

De algum modo, eu queria que aquilo fosse apenas para mim.

Ninguém mais.

– Sou eu quem não consegue entender por que uma garota tão jovem está dançando para esse bando de bêbados que mal consegue segurar o pau dentro de suas próprias calças.

– Bando de bêbados? Isso quer dizer que posso inclui-lo nessa lista?

– Claro que não. Eu devo ser um dos poucos sóbrios nessa droga de bar.

Ela solta um suspiro cansado.

– Você não tem que entender nada, Rocco. Eu mal o conheço, por que acha que tem o direito de me fazer questionamentos?

É uma boa pergunta. Quando eu souber, juro que respondo.

– Meus pais se preocupam com você e eu me preocupo com eles. Percebe o risco que pode estar correndo ao fazer esse tipo de coisa?

Ok. É a desculpa mais esfarrapada que eu consegui encontrar em tão pouco tempo. Acho que já fui melhor em improvisos.

– O que você chama de "esse tipo de coisa"?

– Dançar sensualmente, exibir seu corpo, se insinuar para todos os homens do bar...

Júlia fecha os olhos com ar impaciente, sua respiração descompassada. Quando volta a abri-los, vejo faíscas saindo deles. Ela aponta um dedo em meu rosto, possuída pela raiva.

– Machista idiota! Você é igualzinho a todos os bêbados que diz estar babando em cima de mim. Com uma diferença: consegue ser um babaca mesmo estando sóbrio.

– E você pensa que pode se considerar diferente de todas as outras? Meus pais acham que você é, mas vejo que estão completamente enganados.

Antes que eu consiga continuar meu discurso vazio – reconheço –, ela desfere um tapa em meu rosto, que me afeta muito mais emocionalmente do que fisicamente. Coloco a mão sobre o lugar onde a sua estava agora há pouco, me dando conta de que eu mereci receber aquilo.

Ela está certa. Que direito eu tenho de lhe dizer o que pode ou não fazer?

Uma lágrima corre por seu rosto e me arrependo das minhas palavras no momento em que elas acabam de sair.

– Você não sabe nada sobre mim. Por favor, deixe-me em paz.

Ela passa as costas da mão sob os olhos e retorna ao salão, dançando como se não tivéssemos acabado de ter essa conversa. Respiro fundo, puxando todo meu autocontrole de volta. Aproximo-me novamente do balcão, pedindo outra Corona, sem conseguir desviar o olhar a cada passo, cada gesto feito por Júlia.

– Porra, parece que alguém aqui está apaixonado. Eu nunca te vi reagir desse jeito com nenhuma mulher, Rocco. De onde você a conhece? – Cristóvão rosna, zombando do meu jeito intempestivo.

– Eu não a conheço. Quer dizer, faz apenas dois dias que meus pais deixaram a chave de casa para ela me entregar. Apenas isso.

– Apenas isso? Quem viu a cena diria que vocês pareciam bem íntimos.

Merda! Estou ciente que eu serei o próximo assunto da vila.

– Impressão sua. Lá em casa todos acham que essa garota é a própria reencarnação da Virgem Maria. Estão quase a colocando em um altar quando ela não passa de uma... dançarina da noite.

Cristóvão se inclina contra o balcão com olhar furioso.

– Você está ouvindo a si mesmo falando? Eu não conhecia seu lado preconceituoso. Júlia não é prostituta nem algo do tipo. Em uma conversa informal na loja dela, descobri que fazia aulas de dança do ventre, então a convidei para compor o grupo que se apresenta uma vez por semana aqui no bar. Não há nada de profano nessa dança, Rocco. Todos costumam gostar muito por aqui, e a respeitam por isso.

Porra, o que eu fiz? Hoje foi um daqueles dias que eu não dei uma dentro, troquei os pés pelas mãos, agi por impulso e fiz tudo errado. Eu preciso me desculpar com ela, mas como, se seu último pedido foi para que eu me mantivesse distante?

– Preciso dar essa noite por encerrada antes que eu continue agindo como um selvagem. Nem eu mesmo estou me reconhecendo esses dias, meu caro, então bem-vindo ao clube!

Tomo um último gole da cerveja, deixo algumas cédulas sobre o balcão e pego a chave do meu Fiat Toro para ir embora. Sei que minha mente está bagunçada demais para que eu possa ter uma boa noite de sono, então decido tomar uma atitude.

Que Deus me ajude para que seja a mais correta desta vez. 

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