Capítulo 22

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– JÚLIA, VOCÊ ESTÁ acordada?

Ela desperta aturdida, lutando contra a claridade que invade o quarto. Deus, como consegue ser tão bonita ainda que esteja acordando?

– O que você faz no meu quarto a uma hora dessas?

– Eu precisava falar com você.

– Droga! – Ela levanta, passando as mãos pelos cabelos despenteados, que me remetem ao momento pós foda em Lago da Lua. – Este não é meu quarto, mas isso não muda minha pergunta. O que tem para falar comigo tão cedo?

Mesmo depois de ter jogado cartas até altas horas da madrugada e de ter dormido pouco, acordei mais cedo do que de costume para falar com Júlia antes de ir para o trabalho. Eu não quero que ela fuja da minha casa como um animal assustado e, depois do tempo bom que tivemos ontem, talvez eu a convença a fazer companhia aos meus pais depois que voltarem da bateria de exames.

– Você ainda está planejando ir embora hoje?

– Bem, até onde me lembro, ontem eu deixei claro meus planos de ir para casa depois de ter sido praticamente sequestrada do hotel.

Valentina está dormindo ao lado dela, de forma tão serena, que nosso tom de voz precisa ser baixo.

– Será que eu poderia fazer alguma coisa para te convencer do contrário? Meus pais gostariam muito de ter sua companhia no Jardim botânico.

Ok. Eu sei que continuo mandando mal no quesito de inventar desculpas, mas o fato é que eu não consigo pensar direito quando estou ao lado dela e apenas ajo por instinto, falando o que me vem à cabeça na hora.

– Não há nada que você possa fazer, Rocco.

Sinto uma pontada no coração e uma sensação de perda que, até o momento, era desconhecida para mim. Ela está agindo como uma criança teimosa e todas as estratégias para mantê-la aqui estão escorrendo por minhas mãos.

Eu nem tenho argumentos para convencê-la, ainda mais porque hoje é o dia do bendito jantar na casa de Gusmão e, se eu a convidar, posso colocar tudo a perder, já que meu raciocínio fica totalmente comprometido ao seu lado.

– Entendo. Pelo menos vai permitir que eu te leve até a rodoviária?

– Não.

– Júlia, você não precisa me evitar desse jeito. Eu...

Ela levanta a mão, interrompendo-me.

– Espere. Eu disse que não há nada que você possa fazer, mas eu não disse que estou mantendo os mesmos planos que eu tinha ontem. Seu pai me convenceu a passar o dia com ele e dona Edith, como não consigo recusar a um pedido dele, decidi ficar.

Fogos saltam do meu peito como em uma noite de réveillon. Está certo que é um tanto egoísta da minha parte querer que ela esteja por perto quando eu tenho um compromisso e não posso lhe fazer nenhuma promessa, acontece que ainda não estou preparado para dizer adeus. Não quando a tenho tão próxima, tão minha.

– Obrigado. Você traz muita alegria para eles. Faz tempo que não os vejo tão encantados por alguém assim.

Devo confessar que eles não são os únicos, só que eu não preciso falar isso em voz alta, certo?

– Muito bem, Rocco. Que tal me deixar dormir para que eu esteja bem disposta pela tarde? – Ela boceja alto. – Boa noite, ou melhor, bom dia!

Júlia se joga contra os travesseiros e não consigo evitar que meus olhos se desviem para sua bunda arrebitada coberta apenas por um short fino de dormir.

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