Capítulo 6

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COMO UMA TÍPICA NOITE de sexta-feira, o Sunset Lounge continua o mesmo de sempre. Ele é o bar mais badalado da cidade e a única opção para quem quer uma noite agitada em Lago da Lua, com apresentações musicais, performances e dançarinas exóticas, às vezes. Além da parte movimentada dentro do bar, tem a área externa como uma espécie de varanda, que se tornou o lugar preferido dos casais apaixonados pela visão paradisíaca do lago, do pôr do sol nos fins de tarde e da lua, que parece mais próxima desse ponto.

No momento, estou sentado em uma cadeira alta do balcão, já na segunda garrafa de Corona enquanto Cristóvão me atualiza sobre os últimos acontecimentos da vila. Ele estudou comigo quando éramos adolescentes, logo cedo se tornou garçom e hoje também ajuda a administrar o bar.

Poucas pessoas deixaram a vila para estudar ou trabalhar na capital como eu. Parece que todos estão enraizados aqui e não há qualquer outra parte do mundo para explorar. Não os julgo. Só que eu sempre quis mais, ir além, buscar horizontes que eu certamente não iria encontrar se permanecesse com os pés plantados neste lugar, e não posso dizer que me arrependo da minha escolha. Acho que ele também não, já que está casado, com dois filhos e demonstra estar feliz com as opções que fez.

– ...então, como eu estava falando, o prefeito pegou os dois em flagrante bem na hora H, acredita? Eu avisei ao idiota do Otávio que tomasse cuidado, mas teimoso como é, se ferrou assim como eu previa.

– Porra, o prefeito o flagrou? O que aconteceu com ele depois disso?

– Perdeu o emprego que tinha na prefeitura e agora está vivendo de um bico aqui, outro ali. É claro que o povo da vila não perdoa e o prefeito já ganhou todo tipo de apelido que você possa imaginar.

– Ele e a esposa se separaram?

– Que nada. Aquele velho babão não ia abandonar uma moça linda, vinte anos mais jovem. Isso é o que dá largar uma de quarenta por outra de vinte. Toma tanto chifre que nem sabe de onde veio.

Uma imagem toma minha mente com a menção de uma garota de vinte. Eu sempre me relacionei com mulheres mais velhas justamente pela falta de maturidade das mais jovens, até mesmo quando era um lance de uma noite apenas. Faz tão pouco tempo que conheço Júlia e já começo a repensar a opinião genérica que eu tinha a esse respeito. Tudo indica que ela é diferente das outras, como meu pai disse.

Tomo mais um gole da minha bebida, divertindo-me com as fofocas de Cristóvão. Há quem diga que os garçons são os melhores confidentes que existem. Eu conheço meia dúzia lá na capital que poderia se encaixar nesse perfil, mas não meu amigo aqui. Ele foge totalmente à regra.

– Estão falando do prefeito chifrudo? – Bruce, outro conhecido de infância, dá um tapa em minhas costas, batendo no balcão de modo grosseiro para pedir uma dose de uísque, como costuma fazer sempre. – Chifres não existem. São só uma coisa que colocaram em sua cabeça.

Ele cai na gargalhada, rindo da sua própria piada. Acho interessante que ele tenha esse senso de humor tão aguçado quando sempre foi motivo de chacota por se chamar Bruce Lee, uma homenagem que o pai dele fez ao ator de lutas marciais que admirava quando mais jovem, mesmo que o filho fosse loiro e não tenha qualquer traço oriental no rosto.

Acredita que uma vez Bruce foi pego em uma blitz e quando os policiais perguntaram seu nome, ele levou uma coronhada na hora que respondeu? Foi uma confusão dos diabos porque eles pensaram que não estavam sendo levados a sério quando o cara apenas falava a verdade. Eu ri muito na época que ouvi essa história.

– E aí? – levanto a garrafa para cumprimentá-lo. – Cristóvão está me deixando atualizado dos últimos acontecimentos no Lago.

Ele faz uma careta quando entorna a dose de uísque de uma só vez, então bufa, se mostrando entediado. Sabe aquele cara que é boa pinta, mas um completo idiota na maior parte do tempo? Eu estou olhando para ele.

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