Capítulo 8

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– VOCÊ NÃO DEVIA DEIXAR um homem te esperar tanto.

Júlia pula para trás quando saio da escuridão em sua varanda e me aproximo. Eu sei que esse não é o melhor jeito de tentar consertar as coisas com uma garota que pediu para não ser novamente procurada, mas parece que estou perdendo o tino de fazer o certo quando se trata dela, então estou meio que agindo por impulso.

Ela põe a mão no peito, claramente assustada.

– Ah, não, você só pode estar brincando. O que está fazendo aqui a uma hora dessas?

– Eu precisava conversar com você. Acho que as coisas não se saíram muito bem hoje.

– O problema não foram as coisas. O problema é você. Sabe o que parece um homem esperando por uma mulher no escuro, assustando-a desse jeito?

Ela balança as chaves na mão, mas é como se estivesse com medo de abrir a porta e eu invadir sua casa como um maldito psicopata. Na verdade, até consigo entender o medo dela. É como estou agindo ultimamente, de fato.

– Hum rum. Só que eu não sabia de que outra forma poderia me desculpar com você ainda hoje. Não foi minha intenção te assustar.

– Você agiu como um idiota em nome de suas boas intenções mais cedo e agora continua fazendo isso.

Levanto as mãos em sinal de rendição.

– Não posso tirar sua razão, mas você também não pode me culpar por tentar. Eu fui um verdadeiro cretino esta noite. Juro que aquela não é a forma que penso. Sempre tive a mente muito aberta para tudo.

Ela ainda está hesitante, tilintando as chaves em sua mão na indecisão de abrir ou não a porta. Mesmo no escuro, está tão linda quanto me lembro, seus cachos soltos caídos sobre as costas, a maquiagem ainda forte, marcando seu olhar caramelo, o ar juvenil de sempre competindo com suas feições de mulher.

– Quer entrar? Acho que os vizinhos não precisam participar dessa conversa.

Bingo! Por que isso soa tão bem aos meus ouvidos?

– Claro.

Júlia abre a porta, suas mãos um tanto trêmulas. Quando entramos e ela acende as luzes, posso observar a sala com mais detalhes do que a última vez que estive aqui. Há flores espalhadas em alguns lugares, tornando o ambiente perfumado, seu sofá marrom está coberto por uma manta feita por um material artesanal e há fotos dela em vários lugares, algumas acompanhadas de uma criança.

Olhando bem, acho que a menina é Tina, a amiguinha de Giovanna. Como Júlia tem pouca idade para ser mãe de uma garotinha de quatro ou cinco anos, imagino que seja sua sobrinha, mas decido não perguntar para não parecer mais invasivo do que já tenho sido.

– Então, quer se desculpar? – Ela deixa as chaves sobre a mesa e vai até a cozinha, voltando com um copo de água para ela e uma cerveja para mim. Aceito de bom grado, sem me dar conta do quanto eu estava com sede. – Agora você parece um pouco mais com o homem que seus pais descreveram.

– Eu não sei onde estava com a cabeça quando disse aquelas coisas. Nós éramos estranhos um para o outro há apenas dois dias e não tenho direito algum de me intrometer no que você faz ou não.

Ela ri.

– Sabe, seus pais falavam tanto de você que, quando eu soube quem era, tive a impressão de que já nos conhecíamos há muito tempo. Sei lá, parece um encontro de almas, algo do tipo. Você acredita nessas coisas?

– Não costumava acreditar até agora – sibilo, ainda mais atraído por seu jeito espontâneo.

– Pois é. Agora que está aqui, em minha casa, parece tão certo e, ao mesmo tempo, tão errado de várias formas – ela fica pensativa por um tempo, mas me surpreende com o que vem em seguida. – Se está realmente arrependido pelo que disse, eu te perdoo, Rocco.

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