Capítulo 5

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A CLARIDADE DA MANHÃ não me deixou dormir por muito tempo. Eu havia esquecido de fechar as cortinas antes de me deitar e, quando os primeiros raios de sol adentraram o quarto, meu sono foi embora.

Aproveitei para fazer uma corrida, como já é de costume, só que geralmente uso a esteira da academia do meu prédio para isso. Com a visão privilegiada do Lago da Lua, não vejo motivos para ficar confinado em uma academia, então decidi colocar meus tênis, uma malha e lá estava eu tentando botar toda minha frustração sexual das últimas duas noites para fora.

Abro a porta de casa. Como eu não havia visto Júlia no dia anterior, minha primeira reação ao sair é buscar por qualquer sinal de que ela já esteja acordada, embora eu não saiba explicar por que eu deveria me preocupar com isso. Lago da Lua tem meia dúzia de mulheres bonitas que estaria em minha porta com apenas um telefonema, justamente como eu planejava fazer quando decidi vir para cá, só não consigo entender por que a ideia de ligar para qualquer uma delas me parece cada vez menos atraente.

– Ela já saiu de casa. Júlia vai para a loja muito cedo receber as flores – meu pai diz, molhando as rosas em seu jardim como faz todas as manhãs.

– Quem? Ah, o senhor está falando da nova vizinha? – Me faço de desentendido, ainda que eu saiba que não seja tão fácil enrolar seu Vavá. – Eu... só estava olhando ao redor para criar novas memórias da vila.

Meu pai cantarola alguma canção desconhecida, fingindo estar indiferente às minhas desculpas esfarrapadas.

– Uma vez que você a conhece, ela se torna uma garota difícil de esquecer, porque é diferente de todas, esforçada, inteligente e bem-humorada. Me lembra sua mãe quando tinha essa idade.

O que é isso? Ele está fazendo uma campanha para que eu me interesse pela vizinha?

– E é apenas uma garota, jovem demais para um homem como eu que, por algum acaso, já tenho compromisso com outra mulher.

– Ah, a médica... Sempre a médica...

Qualquer um já conseguiu perceber, nessa altura do campeonato, que Eduarda não é unanimidade por aqui, certo? Mas eu sou um homem feito e independente, oras. Sempre soube o que era melhor para mim e, definitivamente, Eduarda é o melhor para mim.

Bato no ombro de meu pai, ponho meus fones e me afasto sem dizer mais nem uma palavra. Corro pelo calçadão de frente às casas da vila, que é praticamente um grande círculo em torno do lago. Outras pessoas estão correndo, alguns senhores fazendo caminhada, cumprimento cada um deles enquanto vou passando, reconhecendo a maioria pelo nome.

Uma visão repentina me faz parar. Júlia está de frente a uma pequena loja conversando com o idiota, que é uma espécie de faz-tudo da cidade. Ela está linda, como sempre, com seus cabelos presos em um rabo de cavalo e apenas alguns cachos soltos em sua nuca, vestida em shorts e camiseta simples que lhe dão um ar de menina. João Carlos, ou J.C., como costumamos chamá-lo, está fazendo uma entrega em sua picape e, provavelmente, jogando alguma cantada barata para ela, recebendo em troca o mais belo dos sorrisos que, por um segundo, eu queria que fosse reservado só para mim.

Mas que porra é essa que você está pensando, Rocco?

Faz um minuto que eu estava dando os piores argumentos para convencer meu pai da minha falta de interesse na garota e agora estou querendo reivindicar um simples sorriso. Definitivamente, a falta de sexo está afetando minha cabeça.

Olho para eles uma última vez antes de continuar minha corrida e, desta, ela me pega em flagrante. Tento disfarçar forçando um sorriso e acenando com a mão, e volto a correr sem esperar que ela retribua o gesto.

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