Capítulo 14

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O TELEFONE TOCA insistentemente sobre a mesa, interrompendo meus pensamentos. Justo na hora que a coisa parece estar fluindo, que eu consigo colocar minha cabeça no lugar e fazer a planta de uma área nobre onde vamos construir, a droga do telefone não me deixa em paz.

Hoje eu não estou nos meus melhores dias e, por isso, tenho certeza que minha secretária está pensando duas vezes antes de invadir minha sala e anunciar quem está do outro lado da linha. Faço uma nota mental de tirar o telefone do gancho depois de atender essa ligação.

– Escritório da INVENTE, pois não?

– Gostaria de falar com o melhor engenheiro desta companhia.

– Mãe?

Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar.

– Ei, filho! Como é bom ouvir sua voz. Geralmente é sua secretária quem atende ao telefone. Não vai me dizer que você está em um daqueles dias de aterrorizar todos os funcionários da empresa?

Ela me conhece tão bem...

– Exatamente, dona Edith. Eu não estou em um dia bom.

– Eu poderia perguntar o que lhe aflige se eu não tivesse certeza que tem a ver com o seu trabalho. Você vive para esse escritório. Precisa se divertir mais.

Como vou explicar à minha mãe que ultimamente meu senso de diversão parece ter se esvaído e apenas sinto um desejo incontrolável de pegar meu carro e voltar para Lago da Lua como se eu tivesse esquecido uma parte de mim lá?

– Prometo que vou, mãe. Não precisa se preocupar comigo. Aconteceu alguma coisa ou a senhora só queria ouvir a voz do seu filho que lhe deixou há apenas dois dias?

Ela ri do outro lado da linha.

– É sempre um bom motivo, mas não foi por isso que liguei. Como eu havia dito, seu pai tem algumas consultas para fazer na capital e finalmente consegui convencê-lo a tirar os pés da vila para ver um médico. Será que você poderia providenciar com sua namorada um horário para exames de rotina no hospital que ela trabalha?

– Que bom ouvir isso. Finalmente vou ter o prazer de recebê-los em meu apartamento. O que a senhora fez para convencer aquele velho depois de tanto tempo?

– Na verdade, não fui eu, querido. Bem que eu gostaria de levar esse mérito, mas foi depois de uma conversa com Júlia que ele decidiu se cuidar. Eu queria entender que tipo de poder mágico ela tem que eu nunca consegui ter. Ele estava manso como uma égua quando veio me informar que precisava consultar um médico, acredita?

Júlia!

Eu acredito piamente em cada palavra, já que o feitiço dela é o motivo pelo qual eu não tenho conseguido trabalhar direito nesses dois dias, é a razão do meu mau humor e de todas as minhas frustrações repentinas.

– Agradeça a ela em meu nome. Fico feliz que estejam vindo e tenho certeza que Eduarda vai vibrar quando receber a notícia. Ela gosta muito de vocês.

Minha mãe bufa do outro lado, não fazendo qualquer esforço para disfarçar sua antipatia com a minha namorada.

– Ela nunca me fez nada, mas sinto que essa médica não é a mulher certa para você. Meu sexto sentido não se engana.

– Mãe...

– Desculpe, eu não deveria estar me metendo em sua vida. Veja com a médica o melhor dia e me informe para que seu pai e eu estejamos prontos. Eu te amo, querido. Mais que o sol ama a lua.

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