Capítulo 29

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– SR. GUSMÃO ESTÁ TE esperando em sua sala, Sr. Menezes.

A voz de Larissa sai tensa e isso acende um alerta de que os boatos já devem ter se espalhado. Se não sabem, pelo menos desconfiam que tem alguma coisa acontecendo, já que o clima pesado é quase palpável.

– Faz muito tempo que ele está lá?

– Chegou antes de mim e parece bastante impaciente.

Larissa alisa os cabelos com as mãos, sem perder os trejeitos habituais para chamar atenção.

Meu celular toca na pasta e eu sequer me dou o trabalho de visualizar porque sei muito bem quem está insistindo para falar comigo. Desde que flagrei Eduarda aos beijos com Jaque, ela não para de me ligar e mandar mensagens, pedindo uma oportunidade para voltarmos a conversar. Só que eu não estou com cabeça para isso agora.

Além da relação que eu penso construir ao lado de Júlia, a prioridade é a minha situação na empresa. O resto pode esperar.

– Obrigado, Larissa.

Dou um passo em direção à porta até que ouço meu nome mais uma vez.

– Rocco...! – Ela pisca algumas vezes, antes de prosseguir. – Quer dizer, Sr. Menezes, a empresa toda já sabe que você e Dra. Eduarda não estão mais juntos. O próprio Pedro Gusmão fez questão de anunciar ao RH e aí o senhor já sabe. A notícia ganhou o mundo.

Se ele se deu ao trabalho de ir até o RH, é sinal de que minha vida na empresa está por um fio. Embora eu goste muito de administrar isso aqui, sei que tenho um nome já fixo no mercado e posso abrir minha própria empresa, caso o pior aconteça.

– Pois é. Nem tudo dura para sempre. Se acostume a isso.

Ela segura o meu braço.

– Mas quero te dizer que, agora que o caminho está livre, pode contar comigo, ok?

– Fico feliz por ouvir isso. Com licença.

É melhor ter uma aliada do que uma inimiga neste momento, então eu diria qualquer coisa, mesmo que isso a faça ter falsas esperanças.

Com o queixo erguido, abro a porta da minha própria sala sem esperar que eu seja anunciado. Gusmão levanta o rosto, aparentemente cansado, quando me vê e solta uma respiração pesada, demonstrando alívio, surpreendendo-me.

– Filho, que bom te ver aqui. Por um momento pensei que eu tivesse perdido meu melhor engenheiro, mas encontrar você de volta na empresa traz alegria ao meu coração.

Tenho certeza que ele não pode ler minhas reações porque estou me esforçando para disfarçar, mas o fato é que Gusmão não é o único contente pelo meu retorno. Suas palavras significam que eu posso seguir com meus planos de liderar a obra da universidade, aproximar-me de Álvaro e acabar com a raça dele.

– Espero que não tenha aguardado muito tempo. – Coloco minha pasta sobre uma das poltronas e o cumprimento. – Vou direto ao assunto, Gusmão. Como pretende lidar com minha situação na empresa?

Ele fecha os olhos, respirando fundo, claramente cansado por ter que lidar com problemas que já era eu quem estava assumindo.

– Não entendo onde minha filha estava com a cabeça para colocar em jogo um relacionamento tão promissor. Meu Deus, será que ela não pensou em mim em momento algum?

Por que diabos ele sempre acha que tudo precisa girar em torno do seu umbigo?

– Imagino que o senhor tenha criado expectativas em relação a Duda como todos os pais fazem, mas, nesse caso, é a vida dela e não tem nada a ver com a empresa.

– Tem sim. Ela é minha única herdeira e deveria se preocupar como pretende manter de pé tudo que construí. Como ainda pode defendê-la depois do que fez?

– Ela sempre deixou claro sua falta de interesse na engenharia, mas, por outro lado, se tornou uma médica muito respeitada em sua área. O senhor devia se orgulhar ao invés de ficar a julgando.

– Eu sei. – Ele passa um lenço na testa, o ar de preocupação ainda rondando no ar. – Você sabe que sempre foi mais que um futuro genro para mim, não é, Rocco?

– Nunca duvidei disso.

– Como o filho que eu não tive, para dizer a verdade.

– Gusmão, se o senhor está falando isso na intenção de me convencer a reconsiderar minha relação com Eduarda, eu gostaria de dizer que...

Ele levanta a mão, interrompendo-me.

– Não é nada disso. O que estou tentando dizer é que ninguém melhor que você merece ser parte da INVENTE, já que me ajudou a consolidar tudo isso aqui.

– Seja mais claro. O que está me propondo?

– Quero que assuma a presidência da empresa.

– Tem certeza?

– Como nunca tive. Chegou o momento de eu me aposentar, viajar e conhecer o mundo. Para fazer isso, só se eu estiver certo que a empresa se mantém em boas mãos. E o único que eu consigo confiar é você, Rocco. Mais ninguém.

Esta é a oportunidade que eu tanto esperava, embora eu saiba que ainda posso jogar cartas mais altas.

– Fico honrado com o convite, Gusmão, mas se você quer que eu cuide dela como se fosse minha própria companhia, tenho uma contraproposta. Dê-me sociedade e te garanto que o mundo inteiro vai ouvir falar sobre a marca INVENTE.

Ele não pensa duas vezes, e até sinto que reage como se tivesse tirado um peso de suas costas.

– Fechado! Nada mais justo.

Ele bate no meu ombro e sai da sala cantarolando uma canção conhecida. A cena que acaba de acontecer parece tão surreal, que levo alguns minutos repassando toda nossa conversa. Quando caio em mim, começo a gargalhar como um louco sozinho, tentando digerir a ideia de me tornar presidente da empresa justamente no dia que eu pensei que sairia daqui com uma caixa contendo meus pertences.

Minha primeira reação é de mandar uma mensagem para Júlia. Ela e meus pais retornaram para Lago da Lua ontem e, desde então, estamos nos falando por mensagens.

R: Adivinha quem foi convidado para assumir a presidência da INVENTE?

Ligo o meu computador e começo a ler a agenda do dia, ansioso para obter uma resposta dela. Demora algum tempo até que o celular começa a vibrar e não consigo evitar um sorriso instantâneo quando leio o que escreveu.

J: Uau! Ser presidente de uma empresa como a INVENTE é muita coisa. Estou tão feliz por você. E Eduarda, como reagiu?

R: Ela ainda não sabe, mas tenho certeza que não será um problema.

J: Espero que possamos comemorar no fim de semana.

R: Se você me tentar um pouco mais, sou capaz de deixar o trabalho pendente e ir para Lago da Lua agora mesmo.

J: Maldoso! Eu quis dizer comemorar junto com sua família e não somente nós dois. Já contou aos seus pais?

R: Não. Eu queria que você fosse a primeira a saber.

J: Que fofo!

R: Fofo? Espera, eu não sou nada fofo.

J: Ah, você é sim, só não quer reconhecer. Prometo guardar mais esse segredo capaz de ferir sua firme masculinidade.

R: Não me desafie a te provar que eu sou um cara durão. Você está brincando com fogo.

J: KKKKKKKKK. Não vejo a hora de me queimar.

A porta à minha frente se abre e sou flagrado com um sorriso largo ornando meu rosto, enquanto a mulher diante de mim não parece nada bem. Ela se aproxima a tempo de ver com quem estou falando no celular e de ler parte das mensagens.

– Eduarda, o que você está fazendo aqui?

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