Capítulo 11

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A NOITE EM ALTO MAR passa como um borrão. O sol ainda está nascendo quando ancoro no cais e caminho em direção a casa onde passei boa parte de minha vida. Eu devia estar admirando a paisagem como sempre gostei de fazer, os raios de sol, ainda tímidos, tentando brilhar nas águas escuras do lago, mas minha atenção é totalmente roubada no instante em que eu olho para a casa de Júlia.

Antes que eu recobre o juízo, me pego desviando o caminho e parando diante da porta dela sem ter a menor noção do que eu pretendo falar. Bato na porta apenas uma vez, dizendo a mim mesmo que é a única chance que vou dar para que ela me atenda. Quando percebo que não está me respondendo, decido escapar dali e juntar toda minha dignidade, já que não fui eu quem disse adeus sem olhar para trás.

É sério! Nenhuma mulher nunca me dispensou dessa forma, até hoje. Por que estou me importando tanto que ela seja a primeira?

– Oi, Rocco.

Júlia abre a porta antes que eu consiga me afastar o suficiente para que não me veja. Seu rosto está confuso, mas, ao mesmo tempo, seu olhar é atraído para o meu corpo descoberto, usando somente uma bermuda e nada mais. Ela está deliciosa em um short despojado de dormir e uma pequena blusa de alças finas, que está deixando pouco à imaginação. E descalça. Desde quando eu vejo sensualidade no simples fato de uma mulher estar descalça?

Com algum esforço e sua respiração vacilante, ela consegue voltar a me encarar.

– Er... Aconteceu alguma coisa?

– Não. Eu apenas vim ver se você está precisando de ajuda na loja, carregar algum peso até lá, algo assim. Estou com a manhã livre e de repente eu poderia ser útil.

É sério que isso é o melhor que você conseguiu pensar, idiota?

– Ah, sim. Geralmente J.C. faz as minhas entregas, então eu não preciso me preocupar em pegar peso. De qualquer forma, obrigada!

– J.C.? Olha, eu conheço quase todo mundo aqui na vila e João é um dos que não pretende assentar a cabeça tão cedo, mas gosta de seduzir garotinhas e deixar um coração quebrado no final.

Não é exatamente verdade. J.C. é do tipo que quando namora sério, não existe outra mulher no mundo. Tenho certeza que seria perfeito para Júlia.

Perfeito para Júlia? Que diabos estou dizendo?

– Verdade? Então ele seria uma boa opção se eu estivesse interessada. Lembro de ter dito que homens não estão em meus planos no momento. Pelo menos não permanentemente.

Então é isso. A questão dela comigo nunca foi pessoal. O segredo que ela leva consigo deve envolver uma grande decepção a ponto de manter todos os homens a um braço de distância.

Decido mudar de assunto. Continuar falando de J.C. não está exatamente no topo da minha lista para este dia.

– Já tomou café? Eu conheço um lugar que serve uma comida nordestina de primeira no café da manhã.

Ela olha para dentro de casa, parecendo preocupada.

– Não vai dar. Eu tenho que preparar o café de Valentina, arrumá-la para ir à loja comigo, já que abusei demais de seus pais esses dias. Não quero parecer inconveniente.

Ops! Eu perdi alguma coisa?

– Valentina? Quem é Valentina?

Júlia me encara como se estivesse nascendo chifres em minha cabeça.

– Você está de brincadeira, não é? Ela passou dias em sua casa e você está me perguntando quem é Valentina?

De repente tudo fica cristalino como água. Tina é Valentina. Lembro de Mana ter dito que ela era a filha da vizinha quando questionei e de ter visto fotos da menina na casa de Júlia. Acabei supondo que era sua sobrinha, mas, pelo visto, a menina é sua...

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