Capítulo 10

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JÚLIA DECIDIU QUE SE daria uma folga hoje, então passamos a manhã inteira na cama depois de mais sexo suado em alguns momentos, e de conversarmos como dois amigos que se conhecem de longa data, em outros. Ela ainda mantém muitos assuntos em um nível superficial, mas é bastante divertida na maior parte do tempo.

Descobri que gosta de astrologia, que se interessa por aquelas coisas de signos com ascendência e blá-blá-blá que eu não faço ideia para aonde vai. Fiquei sabendo que ela só limpa a casa ouvindo hip-hop, embora goste muito de músicas orientais e confesso que me deu um pouco de medo quando disse que seus autores preferidos eram Alan Poe e Stephen King.

– Poe não é aquele que fez O gato preto? – perguntei, intrigado.

– Ah, você não filou essa aula na escola, então? Sim. O gato preto é um clássico de Poe.

– Eu devo considerar que você tem tendências homicidas por causa disso?

Ela riu abertamente, fazendo gestos de que segurava uma faca na mão.

– E todos nós não temos? – Levantei uma sobrancelha. – Na verdade, o que me prende nesse tipo de texto é o mistério, o desenrolar da trama até chegar aos assassinos.

– Você é mesmo surpreendente, Júlia. Eu poderia apostar que estava diante de uma fã de Nicholas Sparks.

– Ele não é de todo ruim, já que também gosta de matar personagens no final.

Lembro de ter dado uma gargalhada tão gostosa como há tempos eu não encontrava um bom motivo para fazer. Em seguida, ela fez uma massa simples para almoçarmos e agora estamos sentados no cais do Lago, abraçados como um casal de namorados enquanto molhamos nossos pés. Meu alerta de senso de ridículo devia estar aceso, mas, incrivelmente, me pego gostando de estar assim com ela.

– Você sabe por que o nome Lago da Lua? – Ela me pergunta, sua cabeça despendida em meu ombro enquanto observa fixamente a água formando pequenas ondas quando joga pedras.

– Acho que já ouvi meu pai contar alguma lenda sobre um encontro do sol com a lua aqui neste lago. Eles tiveram um tórrido romance e dele nasceram as estrelas. Mas o sol não podia ficar porque o universo precisava dele, então teve que abandonar a lua e seus filhos estelares para voltar a ter uma vida solitária.

Ela vira para me olhar.

– Essa lenda é linda e triste ao mesmo tempo. Ela realmente existe?

– Não. Eu só queria ver sua reação.

– Rocco! – Ela dá um tapa em meu braço.

– Na verdade, há quem diga que aqui é o ponto da Terra de onde é possível ver a lua mais de perto. Por isso que muitos casais escolhem esse lugar para passar a lua de mel, além do bônus de ser lindo.

– Esta versão é bem melhor. É uma pena que eu não vá ficar aqui por muito tempo. Eu poderia passar o resto da minha vida neste lugar.

Seguro embaixo de seu queixo, forçando-a a me olhar mais uma vez.

– O que a impede de fazer o que quer? Você tem família em outra cidade, é por conta de seus planos para fazer faculdade, o que é? Olha, a empresa em que trabalho tem um programa de estágio muito bom para estudantes. Se pensa em prosseguir nos estudos, pode trabalhar lá e vir para cá somente nos fins de semana.

– Por enquanto estou bem com a loja de presentes. Não é por nada disso. Digamos que eu esteja em uma missão que, quando se cumprir, vou ter que seguir adiante.

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