O poema que guardei em mim

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As palavras escorrem
por meu dedos;
perco-as pouco a pouco,
grão a grão.
Já não conseguem
transcender-me
e tornam-se
tão longínquas
dos meus dizeres.
O prazer e o deleite
já não sinto;
as rimas não me
satisfazem
como teus beijos.
O poema
findou-se antes
do fim.

Existo num mundo
de meias verdades
e mentiras
inteiras;
de vidas passadas
e esquecidas;
onde os dias são contados
em decrescente.
Onde as pessoas
são máquinas
e as prosas oblíquas.

Os calos crescem
em mim,
o meu redor
me mata aos poucos.
Minha alma deixou
as cores
e a monotonia
se adentrou.

O sonho envelhecido
dá seu último suspiro,
o luto é
a única coisa que
me faz sentir.

Luto,
e canso,
e desisto.
Mais uma vez.

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