Eu não sei como começar esta carta. E nem mentir para ti. Queria não te dedicar todas as minhas palavras, e letras, e suspiros, e lágrimas, e lembranças... Queria não te pertencer tanto!
Na última carta, disse ser a última. Vieram tantas após esta, sabia que não leria. Às vezes, gosto de passar em frente a sua antiga casa e fingir tocar a campainha, te chamar, te declarar; te declamar. Te sentir novamente.
Continuo colocando o mesmo codinome nos rodapés e ouvindo a mesma cantiga - que era nossa, mesmo que nunca tenha existido nós.
Não queria escrever-te novamente. Acho que esqueceu seu cheiro aqui. E teu chapéu verde-folha. Da cor dos teus olhos.
Prossigo colocando vírgulas onde o ponto final já fez morada. Perdão. Só queria não te ser tão bem.
RASGO.
Não era sobre nós. Era só uma lista de compras, anotei teus cereais sem querer.
RASGO.
Por que a rádio local insiste em tocar sua música favorita?
RASGO.
A lâmpada do banheiro ainda está queimada - desde o dia que foi embora. Apagou-se algo em mim também.
RISCO.
Isso é um adeus.
RISCO.
Talvez um 'até breve'.
RISCO, RASGO.
Nunca foi nada e, ao mesmo tempo, tudo.
RISCO.
É sempre um risco pensar em ti.
RASGO
Novamente meu coração.
RISCO, RASGO
DESPEDAÇO-ME.
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Epitáfio
PoetryLivro de poesias e desabafos dedicado aos momentos de maior sensibilidade do eu lírico. A vulnerabilidade de ser e o infortúnio de sentir. Jaz as últimas páginas de uma vida; seus últimos suspiros. E o que restou depois do fim. *** Plágio é crime e...