Eu sou a correnteza.
Sou a água,
A chuva,
E o trovão.Sou a flor que desabrocha em
Pleno inverno
E a folha que cai
Em meio ao verão.Eu sou os lábios sedentos,
Sou a língua afiada.
Sou a inconsequência,
loucura desvairada.Sou o beijo apaixonado,
O coração dilacerado,
A alma sensível
E o espírito vivo.Eu sou a loucura de Anita Garibaldi
Sou as cinzas do cigarro de Lispector
Sou a bravura de Joana D'arc
Sou a coragem de Maria Quitéria.Eu sou o choro silenciado,
A morte aplaudida,
O grito amargurado,
E a mente agredida.Sou o sonho morto.
O sorriso que se partiu.
A mentira,
A menina,
A alma que nunca se viu.Sou a bandeira
Hasteada,
A pátria puta
Que me pariu.Sou o aborto mal feito,
O estupro de 33,
A guerreira queimada viva,
E a estuprada aos dezesseis.Eu sou a brasa,
A faísca,
O fogo.Eu sou os olhos
que nada veem,
sou o choro
que nunca se ouviu.Eu sou a fome,
A miséria,
A morte,
A sede de um futuro melhor.Eu sou a misericórdia,
A redenção,
O socorro.
O futuro daquelas que ainda virão.Eu sou a bala
Perdida na favela,
Que foi encontrada
No peito de Helena.Eu sou a Ana
A Cecília
A Teresa
E a Clementina.Eu
sou tudo aquilo
que eu quiser,
Mas,
acima de tudo,
Eu sou mulher.

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Epitáfio
PoesíaLivro de poesias e desabafos dedicado aos momentos de maior sensibilidade do eu lírico. A vulnerabilidade de ser e o infortúnio de sentir. Jaz as últimas páginas de uma vida; seus últimos suspiros. E o que restou depois do fim. *** Plágio é crime e...