O Criador de Cavalos

"Recomeço"

Acordo me sentindo estranho, não sei onde estou, tudo em meu corpo dói, saio da cama meio confuso, vou até o banheiro, minha bexiga está estourando, faço xixi, lavo minhas mão deixando a água escorrer sobre elas para tirar o excesso de sabonete, seco meu rosto, me olho no espelho e digo para mim mesmo:

- Theo você está horrível.

- Que dia é hoje?

- Será que foi um sonho, um sonho ruim?

Olho ao meu redor, observo que estou em um quarto de hospital, tem uma bandeja com medicação e seringas sobre a bancada no quarto. Vou até a janela, abro as cortinas, o sol entra e toca meu rosto, a claridade me deixa meio cego, esfrego o rosto novamente, pisco algumas vezes ai sim consigo abrir a janela e olhar para fora. Fico apenas observando a rua e percebo que estou no hospital onde fiz o transplante de medula.

- Bom dia meu filho. Como você está?

Levo um susto e olho para a porta depressa. Me deparo com Cesar parado me observando. Sem pensar muito pergunto:

- Pai, que está acontecendo?

- Do que você se lembra meu filho?

- Pai, me diz que a July está bem, que foi só um sonho ruim.

- Meu filho, infelizmente, não foi um sonho ruim, as notícias não são boas.

- Por que eu estou aqui?

- Meu filho você presenciou toda a passagem de July e entrou em estado de choque, Dr. Alex foi chamado e teve que usar alguns sedativos.

Abaixo a cabeça, respiro fundo e arrisco outra pergunta.

- Que horas será o funeral?

- Meu filho, você não acordou, Dr. Alex te medicou para dormir por umas três horas, mas você está dormindo a uma semana.

- Pai. Como vocês me deixaram dormir por uma semana, por que não me acordaram?

- Filho, eu mesmo tentei te acordar várias vezes, mas você estava completamente apagado. As enfermeiras te deram banho na cama e você não deu nenhum sinal de acordar. As funcionárias do hospital estavam te chamando de "Belo adormecido".

- O Funeral foi na capela onde o avô dela foi velado, lá na cidade onde você foi criado, July foi sepultada ao lado dos avós, ela adorava aquele lugar.

- E a minha filha? Onde ela está?

- Ela está em casa com Hanni e Otávio, é uma criança linda e saudável. Teve uma senhora que deu a luz no mesmo dia que July, ela amamentou Luna durante os dias em que ela esteve no hospital. Agora que está em casa, ela toma mamadeira, vou vê-la todos os dias, vim de lá agora, ela é linda, saudável e come muito bem.

Fico tentando digerir todas essas informações, vou até o banheiro novamente, olho para o meu reflexo no espelho novamente e digo para mim mesmo.

- Theodor Neto. O que você vai fazer com a merda de sua vida de agora em diante?

Sou interrompido pelo meu pai, olhando furioso para mim ele diz num tom áspero:

- Pode parar de reclamar, você tem uma família que está do seu lado e te ama muito, você superou um transplante e tem uma filha linda e saudável que depende de você. Então Theodor Neto de Paollo, faz favor de não reclamar da vida. Eu também fiquei viúvo muito jovem, sofri e chorei muito a falta que Laura me fez, nunca consegui por ninguém no lugar dela, mas nem por isso disse que minha vida era uma merda, muito pelo contrário, eu me levantava cedo e agradecia a Deus pela saúde e pela filha adorável que tinha. E olha só, ainda fui presenteado com mais um filho, que eu nem fazia ideia que existia.

Depois da bronca que levei de meu pai, tentei controlar meu choro e meu desespero, mas foi inútil, cai num choro descontrolado. Meu pai me abraçou forte e disse:

- Chore meu filho. Chore toda a sua tristeza, chorar não é para os fracos, chorar é para os fortes, você vai sentir muita falta dela, mas você não pode se entregar. Você vai ter recaídas, mas chore o que tem para chorar e depois erga a cabeça e toque a vida em diante. Theo não reclame de sua vida. Deus sempre foi muito generoso com você. As perdas são terríveis, mas fazem parte de nossa vida.

No dia seguinte Dr. Alex entra em meu quarto antes do café da manhã e vai logo falando:

- Theo. Seus exames estão ótimos, vá para casa e tente tocar sua vida em diante, não se deixe abalar, seu tratamento continua normalmente, tente se manter calmo, sei que estou te pedindo um esforço muito grande, mas faça isso por sua filha ela depende de você.

Saio do hospital, olho para o céu, está um dia lindo de sol, respiro fundo e digo para meu pai:

- Vamos eu quero muito ver minha filha, vamos busca-la, dar uma jeito de tocar nossa vida em diante, Luna precisa de mim, ela é a lembrança de tudo que eu e July vivemos juntos. Luna é a prova viva que Deus está no controle é só acreditarmos.

Quando sai do hospital tive a certeza que, o antigo Theodor Neto, ficou no passado. Parei na porta olhei as pessoas apressadas correndo de um lado para outro, meu pai olhou para mim e perguntou:

- O que foi meu filhos?

Parei por alguns segundos e falei para ele, tudo o que meu coração estava sentindo.

- Pai, hoje sou outra pessoa, tenho um conto de fadas real para contar, e eu só vivi esse conto de fadas porque eu acreditei que a pessoa certa me encontraria, eu só vivi um conto de fadas, porque eu acreditei em alma gêmea e esperei por ela. Eu ficava imaginando meu encontro com minha outra metade algo como: borboletas no estômago, a emoção no peito, o rubor nas faces, a alegria inexplicável... No entanto, o encontro com ela foi muito mais forte e muito mais intenso do que qualquer outro amor ou paixão vivida. Acima de tudo, o que caracterizou o encontro com minha alma gémea foi a sua intensidade. Quando a encontrei eu sabia que era ela. Não consegui explicar porquê, nem encontrei uma justificativa lógica, mas sabia que aquela pessoa fazia parte de mim, que estava absolutamente ligado a ela, e que a nossa vida nunca mais será a mesma depois desse encontro, a partir daquele dia eu sabia que era com ela que teria mais a aprender. Foi o maior desafio de minha vida. Entender onde ela está agora, é difícil, mas o que me conforta é saber, que para July nós fomos felizes para sempre.

Cesar me ouve atento, com lagrimas nos olhos me abraça forte e diz:

- Minha neta será uma criança privilegiada, pois ela irá ouvir um conto de fadas real. Mas, por falar em minha neta, nós temos que decidir como será o quarto dela.

- Há pai os quartos de sua casa são lindos, não precisa mudar nada.

-Precisa sim. Theo agora é com você. . .