|Capítulo 5|

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"Mas as lágrimas elas vêm e vão, esses somos nós
Eu nunca vou ter o suficiente."

Find Me - Birdy

Juliet Cooper Clinton

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Juliet Cooper Clinton


— Juli, que bom que chegou! — ele cantou quando me viu entrar.

— O que você quer Noah?

— Preciso de uma ajuda urgente sua — ele tinha um olhar meio que desesperado.

— Fala logo...

— Sábado faz um ano que estou com sua mãe, eu tive a ideia de levar um lugar exótico.  Mas pra isso você tem que está nos cuidados de alguém responsável e...

— Eu já entendi — digo impaciente, ele e suas ideias em me descartar na casa da minha avó, como sempre. Ia inteirar a segunda vez só naquele mês, e eu não suportava isso.

— Por favor Juli! Não precisa ser só a casa da sua avó, você pode ir pra casa do seu pai também.

Olhei nos olhos dele, respirei fundo.

— Cem pratas — digo e dou as costas.

— Você é mimada e patética.  Sério,.o que custa ajudar o seu padrasto?  O cara que todos os dias tira o melhor sorriso do seu rosto, e aguenta seu mal humor.  Sério, o que custa Juli?

— Cuida da sua vida Noah, você é o namorado da minha mãe e não meu pai, então para de dizer o que eu não te dei direito. Você escolhe, cem dólares ou nada feito. Agora se não me deixar em paz, eu vou aumentar essa merda pra quinhentos dólares.

  Olhei pra ele com tanta raiva que minhas veias do pescoço estava pulsando com tamanha rapidez. Que saco! Ele sempre me enxe, e eu sempre não tenho paciência. Por quê não vai pro raio do encontro e me deixa quieta? Mas que coisa.

  Não aguento mais esse homem de férias, ele tem que voltar a trabalhar logo. Assim só verei ele e sua cara lavada no jantar, mas em vez disso, o desgraçado além de pegar quase dois meses de férias, ainda fica aqui com a bunda presa no sofá o dia todo.

  Tomo banho, troco de roupa e deito na minha cama. O vento fresco entra pela larga janela trazendo o barulho do mar aos meus ouvidos, a sensação é única.

  Quando viemos do Arizona pra Carolina do Norte, papai e mamãe ainda eram um casal, então ele a fez  jurar que  compraríamos uma  casa grande e na beirada da praia. Mesmo que no caso meu pai  quem pagaria a hipoteca, a mamãe era quem tinha que decidir porque  ela sempre foi louca por coberturas de apartamentos, então eles compraram a casa. Depois papai disse que poderia ter mais uma criança na casa, porque eu já estava com doze anos e não tinha ninguém pra bagunçar as coisas. Ele implorou um filho a mamãe até o último instante antes dele oferecer os papéis de divórcio pra ela, mas ela não aceitou um segundo filho, o que deixou nos dois chateados. Porquê sinceramente, eu queria uma família grande e feliz, queria que minha mãe amasse meu pai como ele a amava, queria ter muitos irmãos. É uma droga ser sozinha, é um saco não ter ninguém para você correr atrás pela casa, brigar por bobeiras.

  Ser filha única me fez ser sozinha, principalmente depois da Beth, porque eu nunca mais tive amigas. Aí eu fui crescendo, meus pais se separaram e minha mãe resolveu que eu deveria me virar com tudo enquanto ela trabalha e saia com as amigas sempre que podia. E meu pai foi embora pra outra casa, arrumou infindáveis namoradas e me esqueceu. Eles diziam estar vivendo suas vidas, quando na real eu era a vida que eles puseram no mundo e me deixaram. Tudo que eu queria é que viver fosse menos chato. Queria odiar menos e tentar me aproximar mais das pessoas, queria poder me escutar dizendo que nem todo mundo vai morrer nesse exato momento. Assim como queria ter paciência para ir no cinema, em pesas teatrais e até em um karaokê, queria que o som do jazz fosse tocado mais alto transmitindo sua harmonia e felicidade. Queria que tudo fosse menos como é.

Ω


O toque irritante da música  I love You So Much me fez bufar.

— Diga...

— É assim que comprimenta seu pai? Onde ficaram os bons modos? Eu sabia que sua mãe não te educaria.

— Para de drama, você é péssimo nisso — fiz careta, mesmo sem ele poder ver. — Eu devo dizer que estou completamente surpreendia por você ter lembrado que tem uma filha?

— Desculpas, eu não estava no país.

E o quê que tem? Não existe mais redes sociais, cartão postal ou até mesmo sinal de fumaça?

— Quem nesse mundo ainda manda cartão postal? 

Posso imaginar ele fazendo uma careta, infelizmente ou felizmente nós temos esse hábito.

— Eu mandaria um pra você caso tivesse feito uma promessa.

— Desculpa meu anjo, desculpa mesmo. Você ama seu pai e não pode ficar brava com ele.

Atá.

— Juli — ele estendeu meu nome de forma cansativa. — Eu te amo e quero te  ver no sábado.

— Não posso, tenho compromisso.

— Não tem, sua mãe disse que vai sair e você ficaria sozinha.

E daí? Meus compromissos não são os mesmos da mamãe, lembra, eu sou crescida e preciso me virar. Eu tenho uma vida agora.

— Por quê você está fazendo assim?

Eu queria gritar bem alto todas as verdades que ele já ouviu, mas eu gritaria de novo. Mas eu não posso, eu não me deixo fazer isso porque eu também quero vê-lo no sábado.

— Eu não posso ir de táxi e a mamãe não quer me deixar sair de moto nos finais de semana.

— Tudo bem, eu falo com ela. Mas nada de fazer aquelas loucuras Juliet, você ainda não é maior de idade.

Tá! Te vejo depois.

Desligo a chamada com a voz presa na garganta. Eu sou uma chata, fingida, orgulhosa, completamente sentimental e às vezes dramática. Meu peito queima de saudades do papai porque, a) ele é um gênio além de lindo e b) a única pessoa que consegue passar um final de semana inteiro comigo sem gritar.

Um Quase Nada De VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora