|Capítulo 10|

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Março de 2016

Nova York

Ethan Hoskins

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Ethan Hoskins


  Em frente ao espelho do banheiro tento controlar minha respiração, meu coração é a absurda tensão que atinge meus ouvidos me fazendo sentir uma dor insuportável. Já é tarde da madrugada, meu corpo trêmulo bate freneticamente no chão frio, o medo, meu maior rival, não me deixa gritar por ajuda. Mal posso me lembrar do que estava fazendo, mas sei bem o que está acontecendo. Resista. Uma voz insiste nas minhas memórias, mas o grito intensifica fazendo a alma perder as forças e cair, enquanto tudo gira em torno da vida, da esperança.
  Delirando, com os olhos que mal podem exergar, apoio no mármore frio, abro a torneira e deixo que a água corra sobre minhas mãos, e como uma lâmpada fraca meu cérebro vai dando pequenos sinais, esses mesmos que meu corpo demora horas para captar e voltar seu devido funcionamento.  

Eu vivia um pesadelo há alguns meses quando fui diagnosticado com sérios problemas cardiovasculares, o que me faz ter uma série de problemas respiratórios. A cardiomegalia — como o próprio nome diz — é um problemas no coração que remédios não são capazes de controlar, então eu precisava de transplante. Todo mundo sabe que não é fácil encontrar um coração por aí, ainda mais que seja compatível com o seu tipo sanguíneo — O negativo. Então eu viva de balão de oxigênio e uma porrada de remédios, exercícios físicos e mais remédios.
  No início eu quis levantar a bandeira branca e dizer: desisto. Mas eu não podia, era egoísmo, e ainda tinha os meus pais que davam suas vidas pra me provar todos os dias que havia esperança, e eu sentia a necessidade de fazer isso por eles. Logo então descidi vestir minha armadura e tentar ser não somente mais um jovem doente, mas aquele quem meus pais deviam se orgulhar; o jovem, feliz, e com várias metas, mesmo sabendo que a qualquer momento tudo poderia acabar.

  Ainda com a respiração pesada, continuo ao chão sem forças para levantar. Ouço o toque de uma ligação desconhecida e mesmo que  eu tente ignorar, a insistência me faz atender.

— A-alô? — minhas voz sai falha, pigarreio.

— Que droga, onde está a maldita felicidade? Por favor, me diga que… — a voz arrastada exibia o efeito acoolatra.

— Quem está falando?

— Isso importa?

— Sim, porque você está bêbada e eu estou quase sofrendo um ataque por mal conseguir respirar — faço uma careta.

— Eu posso ser uma conhecida ou desconhecida. Eu também não sei quem é você, mas me diga alguma coisa boa — os soluços compulsivos tornava impossível entender muita coisa, aquela alma estava  a mercê do abismos e veio pedir a justo a mim que estava completamente ferrado.

— Você não pode ligar pra outra pessoa?  Porquê eu juro que não sei o que fazer, eu nem sei cuidador da minha vida, imagina...ajudar você. — completei pausadamente, o ar estava começando a me faltar  novamente.

— Você pensa em morrer?

— Todos vão morrer.

— Eu sei, mas você já pensou em si matar? — ela parecia querer cuspir as palavras de forma desesperadora, mas por vez refreava a cada nova palavra.

— Não, os meus pulmões fazem isso por mim sem eu planejar. Mas no fim tudo ficará preto mesmo, não importa como você vai morrer. Daqui apouco todos se acostuma, o sol nascer do mesmo formato e aí eles voltaram a tomar champanhe, vão sorrir nos Domingos em família, mesmo que sobre um lugar na mesa. De qualquer forma a perda torna-se dominavel.

— … — só ouço os soluços.

— Mas não se mate agora, faça tudo que você quiser e quem sabe assim as coisas não se ajeita? É tudo questão de tempo, talvez demore ou talvez seja rápido, vai depende da sua sorte. E se isso não funcionar, relaxe e pense no que Chico Buarque disse: não é porque o céu está nublado que as estrelas morreram.

— Eu vou tentar me lembrar dessas palavras quando  estiver sóbria — ela ri fraco. — Obrigada.

— De nada garota misteriosas — sorri fraco. — Cuide-se!

Encerro a chamada à tempo de ver minha irmã entrando no quarto.

— Ethan? O quê está fazendo no chão frio a essa hora? — ela encosta no batende da porta, seus cabelos desgrenhados e o pijama de borboleta me faz querer rir. — Você está bem?

— Eu estava no telefone — mostro o aparelho, ponho a bombinha de oxigênio atrás do sexto de roupas e tento me levantar sem cambalear, mas é impossível. — E você, não devia estar dormindo?

— Sim, mas tive um pesadelo e resolvi vim ver como você está.

— Tá tudo bem, foi só um pesadelo.

— Mas parecia tão real — seus lábios se contraíram e seus olhos brilharam, ela está prestes a chorar.

— O que aconteceu lá? — pergunto como se não me importasse com o quê viria a seguir, mas na verdade eu já sabia de tudo. Tem sido assim desde o início. Ela abaixou a cabeça, seus dedos brincavam um com o outro e eu a observava pelo espelho da bancada.

— Você tinha ido embora — ela diz baixo. — Eu não quero que você vá...

E então ouve uma rajada de soluços compulsivos fazendo ir embora o silêncio da noite. Meu coração arfou ao ver suas lágrimas escorrerem até pingar em sua blusa.

— Ei, eu estou aqui com você, olha. — a puxei pro abraço e acariciei seus cabelos. — Eu estou bem, vai ficar tudo bem, porque..

—... o céu está nublado que as estrelas morreram.— ela completa a frase sem me esperar concluir.

— Isso mesmo. Eu te amo pequena.

— Também amo você, maninhos.

Caminhamos até a cama, ela se agarra ao meu corpo enquanto soluça. Pouso meu queixo em seus cabelos e permito que as lágrimas silenciosas escorre por minhas bochechas. E doloroso ver elas acordando todas as noites e vindo correndo pro meu quarto depois de um pesadelo com minha morte, é triste ter que mentir para vê-las bem, é doloroso morrer, e mais ainda um dia de cada vez.
  de cada vez.

Um Quase Nada De VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora