Capítulo Quatro

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Olhei mais uma vez para Ariadne em busca de ajuda.

Ariadne, por sua vez, apenas comprimiu os lábios como quem diz: "tenho nada a ver com esse assunto".

Cautelosamente, eu respondi:

— Trabalhamos sim... por que?

— Então... não sei se vocês sabem, mas ele tá desaparecido — ela explicou, mordendo a ponta dos óculos de sol que trazia na mão, fazendo uma careta que me pareceu bastante inapropriada para o assunto que ela trazia.

— Eh... ouvimos falar — comentou Ariadne.

— Eu vim falar com o Cláudio porque ele trabalhou com meu marido aqui, mas ele não sabe de muita coisa — ela começou a falar fazendo caras e bocas. Ela era o estereótipo perfeito de socialite fútil e burra que só sabe falar de bolsas e eventos chiques. Bom... não que eu a conhecesse o bastante para afirmar aquilo, mas julgando o livro pela capa como a maioria das pessoas fazem, não havia muitas outras categorias para encaixá-la. — Mauricio sempre me deixou por fora do que ele fazia por aqui, sabe, mas eu sempre dava meu jeito para ficar por dentro das coisas que aconteciam por aqui e... eu sei que ele tinha um pessoal que fazia uns serviços pra ele e pensei que... sei lá, vocês pudessem saber mais sobre o que está acontecendo.

Que porra de conversa torta é essa? Era a primeira coisa que eu queria falar, mas ao invés disso, eu disse:

— E como é que você sabe que nós fazíamos parte desses trabalhos?

— Porque eu já vi vocês dois falando com meu marido antes.

Onde? — indagou Ariadne que não parecia acreditar nenhum pouco na perua.

— Aqui mesmo — ela exclamou, rindo. Ou ela não estava nem aí para o marido dela ou ela era descompensada mesmo. Afinal, que mulher riria daquele jeito quando o marido havia desaparecido? — Vocês, talvez, não tenham me notado porque eu sou muito discreta.

— É... tô vendo — debochei, mas claro, a madame pareceu não notar.

— Aí, gente... eu tô tão preocupada, sabe. Já faz muito tempo e nada dele dar sinal de vida — ela comentou, dobrando os lábios para baixo.

— Você já tentou ir na polícia? — sugeriu Ariadne.

A mulher olhou para os lados rapidamente e se aproximou de nós, falando em tom de segredo:

— Então, deixa eu te falar... mas só entre nós aqui. Mauricio bem que tentava esconder, mas eu sei que algumas dessas coisas que ele fazia por aqui eram tortas, sabe? O caso já até tá na polícia, mas eu tenho pensado que ele pode ter desaparecido por causa dessas coisas tortas, entendeu?

Ariadne havia projetado a cabeça para mais perto da mulher para poder ouvi-la melhor. Assim que a mulher terminou, Ariadne se afastou e disse:

— Ah, entendi.

— Então, eu pensei que vocês pudessem saber algo a respeito.

— O que? A gente? — exclamou Ariadne com a mão no peito, falando como se aquilo fosse o maior absurdo que ela tinha ouvido em vida. — Não, minha querida, a gente não tem nada a ver com essas coisas, não. A gente até sabe que rola por debaixo dos panos algumas coisas assim, não é Gustavo? — Ariadne me olhou, apoiando gentilmente a mão em meu braço.

Na verdade, eu quis rir, mas apenas assenti e falei:

— É... é verdade sim.

— Mas a gente não é envolvido com isso não, querida — concluiu Ariadne.

Linhas Estreitas (3ª Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora