Capítulo Vinte e Dois

903 129 175
                                    

O primeiro soco atingiu-o em cheio.

Sabe aquele baque oco, meio duro; como se alguém tivesse batendo numa massa de pão e de repente descobre que tem um osso ali no meio? Havia sido rápido, mas tive tempo de ouvir o ruído bastante bem.

André não reagiu, mas por sorte conseguiu ficar de pé.

Através do brilho alaranjado do poste que ficava ali perto, vi o brilho negro que o sangue fazia ao redor do nariz. Tudo isso já no primeiro golpe.

Corri para tentar evitar o pior, mas Bruno já havia caído sobre ele mais uma vez. Quando André tomou força para revidar, mostrara-se tarde demais. Bruno acertara mais uns dois ou três socos, levando o outro ao chão.

Assim como havia sido na briga com o pai dele, tentei puxar Bruno para trás pelo ombro, mas me descobri outra vez sem forças para tal.

A maioria das pessoas perdem as estribeiras logo nos primeiros momentos de uma briga; disparando ofensas, rangendo os dentes e agindo sem nenhuma breve reflexão. Bruno não era o tipo de pessoa que podia ser considerada "calma" em uma briga; isso se evidenciava no brilho negro e ameaçador de seus olhos, mas ele era mais focado do que devia. Os únicos sons que vinham dele eram os dos golpes e de sua respiração um pouco mais acelerada.

Pesando uns vinte quilos a mais do que André, ele não o deixava sair debaixo de si. Logo, os outros caras que haviam permanecido de frente da escola vieram apartar, mas mesmo eles se mostraram pouco eficientes.

Eu podia ver, num momento aqui, num segundo ali, a cara de André já toda manchada pelo próprio sangue.

— Calma, Bruno — eu pedia, minha voz engolida pela confusão. — Você vai acabar matando ele, caralho!

Com muito esforço que eu e mais dois caras conseguimos tirá-lo de cima do outro que nem se mexeu.

Ainda puxando Bruno, olhei para André. Ele parecia meio lesado, olhando para cima como se não soubesse aonde estava. Seu rosto era uma bagunça de pele e sangue; que em nada lembravam o homem que eu conhecia.

— E ae, mano, você tá bem? — um dos caras que havia me ajudado a acabar com a briga se agachou ao lado de André.

Ele não respondeu, claro.

Bruno mantinha os olhos fixos no outro estirado, bufando feito um boi.

Caralho, que merda foi essa? Eu também estava meio fora de mim.

Enfiando a mão no bolso dele, peguei a chave e o arrastei até o carro, abrindo a porta do passageiro e o empurrando lá pra dentro. Acho que aquele foi o gatilho para que Bruno "despertasse".

Balançando a cabeça, ele se apoiou no carro e arrancou as chaves da minha mão.

— Não! Eu que vou dirigir essa porra! — e a passos pesados, ele deu a volta. Não era uma boa contrariá-lo. Portanto, entrei no passageiro em silêncio.

Acho que se passou uns dez ou uns quinze minutos num silêncio sufocante. Eu nem sabia direito para onde ele estava nos levando.

— Você não falou esses dias com ele não, né? — ele me perguntou, olhando para frente. O peito subindo e descendo mais rápido do que devia.

— Não. Por que? — nem sei porque fiz aquela pergunta. Eu não era muito acostumado com aquele controle que ele queria impor sobre mim. Acho que nunca me acostumaria... nem queria também.

— Porque se falou, Gustavo... te juro que dessa noite, esse maluco não passa.

Olhei-o, surpreso.

Linhas Estreitas (3ª Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora