Capítulo Dezoito

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— Boa noite — ela disse me estendendo a mão com aquele mesmo sorriso retardado no rosto de antes.

— Boa noite.

Como combinado, ela estava sentada na mesa do lado de fora do bar.

Sentei na outra cadeira vaga e corri um olhar apressado para o pessoal que estava a nossa volta.

Mais uma de minhas loucuras, mas não me senti nada bem com o ambiente. Sei lá, mas era quase como se eu me sentisse em desvantagem em um terreno que seria, tecnicamente, dela.

— Já tinha vindo aqui antes? — ela quis saber, tentando ajeitar o cabelo que não tinha força para se opor ao vento forte. — Aí, que vento terrível.

— Não. Só tinha passado de frente — confessei.

— Quer pedir alguma coisa? — sequer esperou minha resposta e se virou para trás. — O rapaz tava aqui agorinha...

Arranhei a garganta, atraindo sua atenção.

— Emília, né?

Ela assentiu.

— Está um começo de noite muito agradável, mas tenho plena certeza que tanto eu quanto você queremos estar em outros lugares fazendo outras coisas — falei.

Ela pareceu, no mínimo, chocada.

Como têm o dom pra atuação esse povo, meu Pai do Céu, pensei me contendo para não revirar os olhos.

— É... meu marido tinha me dito que você não é nada sutil — ela disse, um sorriso tímido nos lábios e a expressão ligeiramente menos idiota. — Nunca consegue ser menos do que direto.

Resmunguei, fazendo pouco caso.

— Duvido muito que ele tenha dito isso.

Aquilo despertou sua curiosidade, notei.

— Por que pensa assim?

— Nada não. Deixa quieto — acenei com a mão. — Mas, o que foi? Aconteceu alguma coisa com o Cláudio?

— Cláudio? — ela corou. — Não sei, ué. Faz tanto tempo que eu não vou lá...

Ah, com certeza. Por muito pouco, eu não disse mais. Por mais divertido que fosse vê-la se embaralhar toda, aquilo me traria mais riscos do que benefícios. Portanto, desisti daquele prazer.

— Pra você ter me chamado aqui só pode ter acontecido alguma coisa — falei, todo inocente. — Ou, talvez, você quer que aconteça alguma coisa...

Ela riu, um tanto encabulada.

— Para com isso, menino. Você me assusta falando desse jeito.

Suspirei.

— Por que se dar ao trabalho de enrolar tanto? — questionei. — Se tem algo pra pedir, peça... o pior que eu posso dizer é não.

— É que eu fico sem jeito de já chegar falando assim — ela começou evitando um contato visual a todo custo. — Eu praticamente não conheço ninguém desse meio...

— Desse meio? — a interrompi. — Que meio?

— Ah, você sabe, Gustavo. Esse meio onde meu marido trabalhava...

— Eu não sou funcionário público — falei secamente.

— Eu sei que não — ela parecia estar sendo forçada a comer um quilo de farinha em seco. Quando finalmente pareceu encontrar coragem, falou tudo de uma só vez: — eu preciso que você faça um serviço pra mim.

Linhas Estreitas (3ª Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora